Luz de Outono, crescente de maio de 2007
A quem bate à porta.
As janelas estão cerradas ao sul. E todas frestas insistentemente vedadas cospem em saltos radiantes de solidão. Melhor dizer escuro, toda luz que vem é suave. E suavizar é romper com a pureza.
Tentaste avisar com antecedência tua chegada, bem sei. Fui eu quem não quiz ouvir. E agora não me importa o frio que sentes com tuas poucas e poídas roupas, faz frio cá dentro também, um frio atrás das entranhas que é difícil aquecer.
Os móveis falam demais, são muitas vozes, eu como tudo, engulo seco o que me agride, mas como tudo. Fico de cama digerindo, ou bebo tragos destilados. Quase nada me serve. O vento que teima entrar ao sul dessa janela, é mais cortês quando o encontro na rua, nos beijamos, e falamos sobre o andar. E eu já não quero só andar, pretendo tão logo voar. Ele me precave sobre o perigo. Eu apenas sorrio com um olhar frio. O tudo sempre me aguarda. Há tantas possibilidades fora de cá dentro.
Sabes, o lado de fora é uma prisão com linhas. A corte está todo tempo controlando teus movimentos, maquiando teus pensamentos. O lado de fora dessa cidade é uma prisão.
Teve um amigo que saiu aos bagaços e fugido daqui. A gente acaba não entendendo bem porque isso acontece (fugir e o bagaço), mas dá pra ter um pouco de noção o quanto cá dentro se perfura.
Não insista, não vou abrir, tente outra porta de paredes roxas. Aqui só há... talvez, pedaços de mim do nada e do tudo.