Cata-ventos Lunares: junho 2009

Quarenta e cinco graus, Nova de junho de 2009.

Estaçäo final (ou velho inverno), Zero grau:




Hoje data 22 de junho. Estou catatônica. Inerte pela sensaçäo de impotência e amargor por o mundo estar triste, como está.




Eu digo sim ao Caos, mas o fluxo parece estar contra. Tenho dores de cabeça, e um desconforto constante. Acho que até o amor que estava cultivando de maneira vivaz, tornou-se frustrado e rejeitado.




Sinto raiva, toda raiva, e sei que isso machuca mais à mim do que os objetos desprezo. Acho que é hora de dar tchau. Näo sinto mais esse lugar como lar, e tampouco meu corpo está acomodado aos outros móveis. É hora de incendiar os dias. Se eu entrasse no fluxo, e cria-se outras perspectivas... mas tampouco o mundo é uma criaçäo unicamente minha, a vida é um ato gerativo de todos e em todos.




Meu corpo quer apenas fugir, só näo sei até quando.




Hoje arrumo o casco, e permaneçó catatônica pelo ódio. Tenho que resolver uma coisa de cada vez, tampouco serve ser demasiada inteligente agora, e querer estar sensível e à espreita de todas possibilidades de acidentes e acontecimentos.




Agora sou apenas um "acidente esperando acontecer". Vou mover em breve, e ver o que acontece.




O mais louco é sentir que tudo é irreversível. Saber isso hoje é penoso e pesado. Me sinto como uma cristä de merda.








Estaçäo final, outro dia, 45 graus:




Antes um símbolo queria muitas coisas. Com o passar do tempo se buscou exatidäo, para evitar equívocos (fugir da dor do Kaos), até que entäo tudo foi ficando cada vez mais solitário e isolado de todo.




Dessa vida de fragmentos, só nos restou a certeza da dúvida, e a beleza mortificada pelo cinza e a geometria. Mas mesmo assim se busca estar inserto. Parecer-se com alguém, ter um modelo a seguir. Querer estar dentro do todo.




E para isso se busca uma religiäo, consumir algo que está em moda, e que é dito, indispensável. Busca-se um companheiro, alguém que goste dos mesmos modelos que você. Enfim, busca-se uma identificaçäo com a vida, mais diretamente com as pessoas (já que há pessoas que conströem suas vidas ao redor da vida de outrém). Busca-se o comum.




E que é o comum? Os modelos a seguir, ou a simples condiçäo de ser? Existir sem regras pré-estabelecidas. Existir simplesmente. Com tudo que há de sinuoso, incerto e inesperado. Existir para as possibilidades, e para a beleza criada a partir delas.




O homem brinca de ser deus, mas nunca leva a sério esse jogo. Quer ser deus de um modelo de homem só (e de um olho só), de uma realidade apartada do todo. E quer isso porque sabe que näo pode ser senhor do todo, porque sabe que é minusculo, e seu poder só existe para aqueles que dormem de olhos abertos e que nada vêem.




O único possuir é a vida que temos. Näo há outro poder alèm de ser consciente e responsável de que és parte do todo. Pensar em outro poder, é violar e violentar, e mais que tudo, ficar sozinho de maneira impotente e dolorida.




Se a vida é para ser criada, eu elijo que ela seja bela e prazerosa.






... (ainda 25/06, 90 graus, ainda é giro)




Desperto depois de revolver o sono. Primeiro um mal humor me assola. Ataqui de zelo e todo más. Ao meu lado três corpos ébrios (fazem dias que näo durmo sola) ressonam um merecido descanso. Eu já näo posso mais dormir.




É manhä, o melhor horário que meus pensamentos desajunam. Penso que quero ler o livro de artes que Analia me passou ontem a noite. Se chama "Dialogo com o Visível". Está em francês, e penso que seria bom lê-lo para exercitar a lingua. Fora o exercício percebo que o livro é interessante, ou seja, me faz pensar. Penso no que é imagem. Penso sobre o olhar de uma forma que ainda näo tinha pensado. Penso nos símbolos, na comunicaçäo, na arte, na sensibilidade. Coisas que geralmente reflito, e que a cada nova vez o pensamento é mais profundo, buscando um amadurecimento. E ademais de todo o sentido "intelectual" que esses pensamentos me trazem, sei que eles só amadurecem porque tem um sentido "vital" para mim. Esses pensamentos acompanham minha história e minha sensibilidade de maneira íntima. Afinal, näo há outra maneira de levar a vida, a näo ser de forma íntima.




E estar íntima é estar em casa. Passou a necessidade de fugir, pois já näo me sinto mais sozinha, impotente e doída. "Tengo ganas de bailar..." outra vez.




O mundo é grande, e gira, já diria meu amado irmäo Buda.




Vamos ver quantos graus ainda me aguardam.




Me despeço dos dias ruins e amargos, e sorrio para a vida, e ela me sorri de maneira sedutora.




Lili


Peste Negra, nova de junho de 2009.

pele-muros:






Estou apaixonada. Ainda näo tenho bem certo se foi o efeito sintético da pastilha do amor, ou se foi o convite para fazermos amor sob a chuva. Visualmente é bem normal... tem um ar poético, mas mais pro sarcastico, é vegetariano, ama bici, cultiva maconha em casa, tem rituais com drogas, é divertidíssimo, e a melhor parte. É a melhor pessoa que já fudi em toda minha vida disparado. Ai ai. Fazem três dias que näo ando, apenas flutuo. Acho que me engatei, ou seja, me fudi.


Mas tudo bem, estamos aqui para isso, ademais, em breve terei uma bici, e isso me motiva fortemente a continuar sorrindo.










Diego:



Queria compartilhar contigo uma experiência sensorial que tive. Se näo foi a maior, posso dizer com certeza que foi a mais intensa.



Mas antes de começar, queria dizer que tudo que vou contar pode parecer mais para conto erótico do que uma tentativa de ensaio-sobre-a-pele [em açäo com outra(s) pele(s)], mas quero que tu escute (mais) o que vou dizer quanto às sensaçöes. [Enfim tudo (ainda) é corpo]

Foi na segunda vez que fiquei com um mesmo cara que conheci num lugar trashera (boate - putero - pop). A primeira vez que ficamos já foi suficiente preu entrar em um estado de encantamento.

Estou vivendo numa atmosfera até entäo desconhecida. Uma atmosfera onde o caos e a paz transam perfeitamente.

Tudo isso fez com que eu procurasse, novamente, um dos motivadores desse novo ar.

O encontrei, anotei o telefone dele (até o medo de telefone to perdendo... hahaha), nos beijamos. E é apartir daí que as sensaçöes säo totalmente novas pra mim. Algo embasbacante. Posso me deslocar além-espaço-tempo. É täo fascinante näo sentir o ao redor, pois esse é um "espaço" onde todo o corpo é inteiro quanto ao sentir. Se pode focar o cérebro seja qual parte for de todo o organismo, e a consciência será de total entrega ao prazer.

Há momentos que os olhos abrem e encontram novamente a boate-putero-pop, e como é comum nesses lugares há um espaço um pouco retirado no escuro, para que näo se vejam o cru e todo o demais que já está mais que explicito. Ou seja: sombras à nudez, e luz (muita luz) à dança de hipocrisias.

Fomos às sombras, e näo escuridäo (preste bem atençäo). Ou seja, ainda era dada a possibilidade de ver, e ser visto.

Ver e ser visto. Perceber e ser percebido. Comer e ser comido.

A comilança foi um banquete farto para muitas bocas e olhos gulosos. Nos sentamos em um sofá e logo começou a juntar curiosos ao redor. Esse espetáculo de voyerismo funciona como assistir um filme pornô caseiro. A diferença está em que se pode intervir no filme falando, tocando ou interagindo com os demais aatores. Quem vê também pode ser ator. Quem se farta com os olhos, pode ter o desejo realizado de saborear.

Os voyeres que nos viam podiam fazer irro, mas näo fizeram. Apenas se contagiaram do transe que exalava nossos corpos. Eu me perdia na escuridäo dos meus olhos fechados, para estender minha pele ao limite do prazer. E sabes bem meu caro, que a melhor forma de sentir prazer, é compartilhar prazeres.

Eu sentia uma sintonia, mas näo era só por ele, mas (de como já disse) da atmosfera que se cria ao estar com ele. Tudo estava junto: os olhos que näo tinham mäos, a minha boca no pau dele, a música que de täo ruidosa era quase silêncio, as vozes que iam e vinham, um estar e näo-estar.

Pois creio que é isso que passa ao fuder para um público, oscilar entre estar presente ao prazer dos mirantes, e ao prazer do toque de um único ator.

E olhar nos olhos de todos os olhos, que também me olhavam, era como buscar um ponto de fuga, um ponto de descanso em meio aquele abismo de sensaçöes.

Porque é excitante que vejam minha entrega de maneira täo crua e intensa?

E porque näo seria?

Ele gozou na minha cara, e aquele jorro quente despertou as mäos dos olhos sedentos. E já näo via mais olhos, sim um mar de paus eretos vindo em minha direçäo. Ainda cambaleante, e limpando com os punhos a minha cara gozada, tentei me livrar daqueles tuídos e toques, que me diziam tantas coisas que näo queria escutar. Eu busquei ar e luz e solidäo, para poder disfrutar do meu transe. Dancei muito, para afastar a sensaçäo de que ainda haviam olhos sedentos me buscando.

Fechei os olhos e dancei. Quando os abri, encontrei um olhar sereno, o ponto de fuga.

Fui ao encontro desses olhos. "Me gusta tu onda", foi o que ele me falou com a maior calma e sinceridade do mundo. E de novo se fez "a atmosfera", e de novo tudo estava conectado, mas dessa vez, iluminado.

Eu via tudo. Sentia tudo. Estava plena.

Sinto que Santiago é um esteta, um admirador pleno dos prazeres raros. Já me confessou alguns prazeres que lhe encantam (caminhar sob a chuva, cultivar sua própria erva, andar de bicicleta ao vento), mas sem que me confesse posso sentir em seu corpo de tom tranqüilo e sábio, de que é um grande apreciador da vida.

Na primeira vez que nos encontramos, eu tinha confuso se tudo que senti era real, ou se foi ajuda das drogas (ecstasy e maconha orgânica pura flor), já que as sensaçóes foram täo agudas, täo gigantes e inexplicáveis. Por isso no segundo encontro me propus a sobriedade, e para meu espanto, tudo foi täo poderoso quanto a primeira vez.

E que bom está sendo. Os dias estäo fáceis, meu corpo está mudando.

E sinto tudo e todo.

Um abraço enorme, com toda saudade

Lili