Cata-ventos Lunares: abril 2009

Tudo em seu lugar, Cheia de Abril de 2009.

Janelas abertas:





Gosto do nome dessa cidade: Passo de los Libres. E o dia está agradável. Nenhuma malificiência me perturba. O vento cheira a liberdade, e faz meu coração respirar tranqüilo. Ai ai





Pela primeira vez na viagem sinto-me escrevendo uma grande aventura. Jack London e Kerouac não saem da minha cabeça. Essa grandeza de poder andar só e ter como casa todo universo. Não é uma fuga de casa, pois meu corpo é casa, e todo resto varanda. Sinto que esse andar pode ser escrita, pois como disse há algumas semanas, dessa vez viajar é mais como um reencontro com o novo, e não um deslumbre.





Ah, uma observação sobre horários de trem: são bem incertos. Primeiro obtive a informação da própria ALL (responsável pela estação de trem) de que sua partida era às 16:30, chegando aqui (agora são quase 15:00) soube que será às 18:00. E com certeza será mais tarde que isso. Mas não há problema, estarei aqui para ouvir o apito do trem.





E veja que coisa linda leio agora. É de Hildinha: "Amar o perecível / o nada / o pó / é sempre despedir-se." Ai de mim, que seria do mundo se não fosse esse amor. E que seria de mim.






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Adoro o trem azul. Apesar de estar dentro dele, e ainda não mover, vislumbro as poesias. Essa longa tarde de espera, me reservou encontrar Jeronimo, um quase-filósofo-músico-publicitário, e com toda certeza uma ótima companhia. E a viagem sem destino, já ganhou acompanhante. Agora já são sete horas da noitinha, como havia previsto a chegado desse amado trem.

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Ahora son 10 horas (ai deslize, já estou pensando em castelhano) y estamos em Monte Carlo. A previsão é chegarmos amanhã ao meio-dia. E terei meio-dia para buscar abrigo. Mas tudo correrá bem (eu e minhas rezas... afinal estou só e com tudo).

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Já é amanhecer de 26 de março. Um mar verde me brinda de olhos. Tudo corre bem, só minha cabeça que se enche de nervosismos. Mas vai passar...

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Acho que o escuro da noite deixou meu corpo cansado e minha mente anciosa e perdida. O sol se mostra por completo e retomo a tranquilidade do início da viagem. Deixar os sentidos abertos me faz pensar menos negativismos, e me deixar mais a vontade com o todo.

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Já vivo em Buenos Aires há dois dias. A burguesia fede, e sua calda lamenta de hipocrisia, deixa sujeira até em mim. Mas já não vou mais procurar em ficar nesses dutos.

Amanhã (hoje mais tarde, pq estou indo dormir e são quase 10 da manhã) vou em busca de uma casa okupada e encantada. Las estrellas está sendo boa comigo, mas sei que minha energia criativa e produtiva não casa com a energia da casa. E vamos ver o que acontece... Não mais fantasmas, nem náuseas.

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Hoje são 30 de março, lunes. Mas não sei qual lua me guia, mas os "ares são bons". Na verdade ontem era brisa, hoje ventania. E ao assistir um filme mexicano (criticas à crueldade que o capitalismo é capaz de gerar0 me lembrei do quanto já havia desistido de perguntas que sempre, inocentemente, me atormentavam. Não sei, mas me parece que nem todas essas perguntas, se encontram sem respostas. A verdade é que não há mistérios. Sim. É isso.

É tudo uma questão de viver o dia de cada vez. E toda vez fresco, e novo. Hoje li nas paredes da Fábrica, que não há futuro, o futuro é hoje. E por falar em Fábrica (às vezes penso que estou tão dispersa, e desperta), o primeiro encontro com essa okupa foi como imaginava. Ou seja, um reencontro. É magnífico poder me sentir conectada com a vida. Meus pensamentos, meus sentidos, meus medos, meus desconfortos, minhas intuições...

É lindo saber que estou tão viva, que não quero contar os dias, apesar de saber de coisas práticas que preciso fazer. Mas uma coisa já respeitei: uma coisa de cada vez.

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Já estou na Fabrika. É incrível o que se pode fazer. Falo com o que diz respeito a recriar. Recriar não é fazer de novo, mas fazer em cima do que já foi feito. Tenho certeza que aqui será uma experiência riquissima. Estou emocionada, com o conforto que este lugar me passa. E não só o lugar, mas as pessoas. Sei que é primeiro dia, e pode ser que esteja sendo precipitada, e também um pouco extasiada e aliviada de sair da las estrellas (Afinal, nada contra o espaço, só não é meu ritmo). De toda forma estou otimista com a idéia de viver um tempo aqui. Tim-tim ao café, os cookies, a música free-style, e os lençõis limpos que me brindaram já nesse fim de dia. Amanhã será melhor.

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Hoje data 4 de abril de 2009. Sábado. Olho as paredes. Hoje é outra madrugada. Sinto muita saudade de casa, não pelo conforto material, mas pelo conforto emocional. Lidar com o novo, tem se manifestado em mim de várias maneiras. Talvez agora esteja um pouco dificil, porque estou tentando me adaptar às novidades, e isso não tem sido fácil, exatamente porque há muita novidade. E também, dentro de tudo isso, tem a minha preocupação de me sentir confortável comigo mesma.

Acho que o saber mais latente agora, é de como amigos são importantes e fazem falta. Porque teus amigos conseguem te ver duma forma tão transparente, que é seguro tê-los por perto. É seguro e confortável, já que esse outro olhar, te ajuda muito no auto-perceber. Bom, resumindo, sinto saudade do amor. E agora o que tenho é construção. Construção de afetos.

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Hoje data: 5 de abril de 2009. Más noticias. Minhas "ganas" de chorar sem motivo, nunca são sem motivos. Meus queridos foram cuspido e espancados. Que nojo me dá. E que tristeza profunda. Como pode a vida ser tão martirizada praqueles que sonham? ou setá que tudo não passa de um equívoco juvenil?

Às vezes temo, que tudo não passe de uma síndrome de cristo. Não só de minha parte, mas da parte dos "resistentes". Hoje me sinto em um filme de ficção científica, com pensamentos a mil, sobre teorias da conspiração. Mas por outro lado me ponho mísitca, e crédula do "jogo de acasos".

Já tenho um "cômodo" na casa. E me sinto mais confortável. Caminhar é sempre algo que me ajuda. Principalmente quando a ordem é preservar o otimismo. Outra coisa que descobri agora. Preciso estar fora de Pelotas. Conversar com a Janice hoje, me fez perceber, finalmente que já não estou mais lá.

Acho que só agora, depois de 10 dias aqui, que me caiu a ficha, de que tenho outra vida. Totalmente nova. Sinceramente, tem vezes que me orgulho do fato de ainda estar viva.

Ai ai. A vida é grande. E infinita de possibilidades de acontecimentos. Ademais, essa história dá um filme: " Jovem de 24 anos, após terminar a faculdade, sai em busca de vivências em um outro país. Este é o cenário para um história cheia de emoções e fortes aventuras. Não perca! Você vai se emocionar." Pois é... acho que é assim. Sentir e Sonhar...

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Bom, como segunda é dia de gente trabalhadora ir à luta, assim o fiz. Meu primeiro mangueio, sozinha, em Bs As. Ainda não contei. O ponto era tranqüilo e me sinto feliz com o meu palhaço de volta. Só isso já me valeu. Agora contar...

Uma surpresa agradável: 11,70. Para o que eu esperava está ótimo. Amanhã vou a outro ponto, e ver como me saio.

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Hoje data 9 de abril. A lua é cheia... isso já diz tudo... A paisagem é linda, o outono, suas folhas, seu frio, meu andar... adoro rua, adoro pessoas, gatos, cachorros, baratas... hahahhaa, adoro o movimento. Eu, esposa do tudo, amante do nada.