Cata-ventos Lunares: outubro 2009

Muitas luas na lua nova de outubro.

Janelas rosas:









Faz muito que não leio o que escrevo. E hoje, depois do cansaço, e antes da tempestade, resolvi revolver meu lixo e ter o que te dizer.









Agora com mais calma, e menos aflição. Agora sem dores, e solidão.









Assim começo: o tempo só me alcança enquanto dança. Eu ainda amo o mesmo rapaz cheio de calma, ardor e ausência. Meu corpo ainda mutua de maneira constante. Desperto bem, muito bem.









Assim diz outra carta:









“Leio demasiado. Minha língua são múltiplas. Encontrei (nos encontramos) o meu escritor argentino, e agora já marco o fim do meu estado de sítio.”









Assim diz o (meu) escritor:









“Por eso a mí me gusta meterme en las vidas ajenas, vivir todas sus secreciones, todas sus esperanzas, sus buenos y sus malos humores.
Por eso a mí me gusta rumiar la pampa y el crepúsculo personificado en una vaca, sentir la gravitación y los ramajes con un cerebro de nuez de castaña, arrodillarme en pleno campo, para cantarle con una voz de sapo a las estrellas.
¡Ah, el encanto de haber sido camello, zanahoria, manzana, y la satisfacción de comprender, a fondo, la pereza de los remansos… y de los camaleones!...
¡Pensar que durante toda su existencia, la mayoría de los hombres han sido ni siquiera mujer!... ¿Cómo es posible que no se aburran de sus apetitos, de sus espasmos y que no necesiten experimentar, de vez en cuando, los de las cucarachas… los de las madreselvas?
Aunque me he puesto, muchas veces, un cerebro de imbécil, jamás he comprendido que se pueda vivir, eternamente, con un mismo esqueleto y un mismo sexo.
Cuando la vida es demasiada humana - ¡únicamente humana! – el mecanismo de pensar ¿no resulta una enfermedad más larga y más aburrida que cualquier otra?
Yo, al menos, tengo la certidumbre que no hubiera podido sopórtala sin esa aptitud de evasión, que me permite trasladarme adonde yo, no estoy: ser hormiga, jirafa, poner un huevo, y lo que es más importante aún, encontrarme conmigo mismo en el momento en que me había olvidado, casi completamente, de mi propia existencia.”

Assim segue a mesma carta:









“Há também os pensamentos. Lilazes, roxos, celestes, glaciais. Foi-se o inverno. Foi o mais protegido, do lado de fora, da minha vida. Fiquei a sós comigo mesma, a sós com meus (todos meus) pensamentos. Como me é dado em ciclos.









Ando revendo minha sexualidade. Não sei se tanto, mas tenho me chocado com novas idéias, ideais, saborizadxs. Outros sabores, entendes?









O excesso de gravidade, nesses últimos meses, me pôs em movimentos lentos. Deu tempo de ver os detalhes. Um universo deles. E foi através desses universos de detalhes, que os acontecimentos foram se dando. Se doando, se entregando.









Eu ainda amo o mesmo rapaz de antes. Fui para o outro canto, nem tão longe, pra me desenvolver dele, me desenvolver do outro e me desenvolver em mim. Agora tenho uma janela ao alcance dos meus olhos e dos meus pés.”









O amor podia ser o tema de todas as cartas, de todas as danças, de todos os sopros (ainda sei ventar, e me pôr dentro do vento). A história que eu gosto de contar ganhou dezenas de cenários e personagens. Mas ainda não me desapeguei das maneiras que Shakespeare me ensinou a narrar e construir meus romances. Claro que não pelo romantismo das palavras, mas sim pelo romantismo das casualidades (se é que posso chamar todos absurdos assim).









Absurdos me divertem. Anoiteceres cada vez mais me despertam. Construí amigos. A beleza voltou a morar com a gente. A beleza e seus respectivos rituais.









Bruxa outra vez! Que lindo! Lindo, dançar acompanhada, rir acompanhada, chapar-se acompanhada, cuspir acompanhada. O valor da vida está presente.

Lili
(com todo prazer)