Cata-ventos Lunares: fevereiro 2010

Giro de 360 dias e graus, crescente de fevereiro de 2010.

Ninho quente:

Pensei que sempre serias o mesmo. Afinal tudo volta pro seu (mesmo) lugar. Mas não.
As noites são úmidas e quentes. As brigas foram substituidas por trocas de afeto. O universo parece ter se conectado comigo, outra vez.

Ainda amo o mesmo rapaz, e agora ele voltou a falar comigo. Diz que sente vontade de me ver. Tudo isso me parece fantástico. Me parece fantástica a amabilidade, que o fato de voltar a essas linhas, fez chegar até mim.

Demasiado romantico, mas o fato de estar um ano longe, fez eu ter um contato intimo contigo.
A rotina descompassou-se. Já sinto falta do estranhamento da falta de intimidade com territórios. Mas por hora não, isso não passa. Como disse, estou intima, reconhecendo as coisas imutáveis no teu rosto e na tua maneira de ser.

O caminho até ti foi penoso. Teve momentos de choro e cansaço profundo. Algo parecido ao trajeto de um mártir. Esperando teus braços como um troféu. E eu os ganhei. E me envolvo neles agora. Forte e segura, cada vez mais.

Antes dizia que me sentia forte de estar viva. Hoje já é muito mais que isso.

A vida não está pra ser ordinária, e sim extraordinária. Morte ao medíocre! Sempre se pode buscar mais da vida. Eu ando pelo mais.

Livre e descalça danço.

da tua

Eliane Rubim

Pode ser a volta, nova de fevereiro de 2010.

Ao caminho:

Pensava muito sobre descubrir-te sempre novo. Com outras curvas, penhascos e nuvens. Agora quero ver-te como uma maneira rápida de voltar. VOLTAR? Sim... já quero voltar. Finalmente ir aos abraços de quem amo, e amo para saber que posso voltar.

E impulsiva que sou, quero que seja agora. Estou em La Paz, vislumbrando montanhas cordilheiras cobertas de gelo. Outra vez estou sem respirar bem, com dores de cabeça, e enjöo. Definitivamente a altitude exacerbada dos andes näo me faz bem.

Ademais, sinto cansaço. Sinto que jà estou em tempo de recarregar baterias. Alèm de rever-me, depois desse ano de andar.

Tu és o que tenho de mais duradouro, e sei que sempre estarás. Assim... que seguiremos nos vendo. Só que agora o sentido é outro. Mais próximo do coraçäo, talvez.

Vamos ao sul! Ainda gosto das partes baixas...

Da sua companheira

Lili

Abaixo sol, minguante de fevereiro de 2010.

Amiga Rua:

Estou em Sucre, Bolívia. É tarde de fevereiro, como já apontei. Mate, violäo, e meninos de rua que falam inglês misturado com Quechua. Depois de dias de catástrofes (para os humanos) nos andes, o sol nos aquece no pé da montanha. Talvez näo täo baixo, talvez nas coxas. De toda forma, ainda se pode dizer que é um zona de mais calor. Isso é bom, pois ando em busca dos pontos erógenos de Bolívia. Agora, algo me aponta ao Sim. (Talvez as coxas)

Ando, e isso segue contendo toda beleza. Como isso de vender incensos. Andei buscando uma maneira de escrever sobre essa minha nova atividade, e heis, que hoje, ela surgiu.

E na verdade o conto nem surgiu de mim, e sim de Vicky e Juan. Näo importa, pois foi vendo o que está fora, que compreendi o que estava dentro. Taosticamente simples assim (agora pensei em Matias). Isso de inter-relacionar-se com culturas que misturam a miséria do capital, com a riqueza indigena, tem me sensibilazado muito, e tu, como sempre, colabora para esses olhares.

Bom... voltando aos incensos. Para que fique ao saber de todos, na Bolívia näo se comercializa (ou quase raramente) esses "palititos ambientadores". Entáo, cada vez que demonstro a novidade (porque muitos nem sequer conhecem), as pessoas ficam com um olhar paralizado de tanto fascinio à brasa que perfuma.

No começo me sentia um pouco como a colonizadora branca, que presenteia espelhos aos indigenas. Depois essa má sensaçäo foi se transformando. E Juan me fez ver essa transformaçäo.

Estava Vicky, fazendo macramê, e se aproxima Juan, menino de rua, engraxate, poliglota. Brincadeira, conversa, balas. Ele presenteia a todos uma bala deliciosa, menos a Vicky.

Até que ele encontra um saco cheio de palitinhos coloridos, e por curiosidade, comum a todas as crianças, pega um e começa observar.

Depois da série de perguntas dele, e de explicaçöes da nossa parte, Vicky propöe uma troca. Uma bala, por um incenso.

Prontamente ele lhe deu a bala, e saiu todo feliz, de olhos fechados, quase como em transe, sentindo o perfume do seu novo bem.

E eu fiquei pensando, no que sonhava? O que provocava em seu corpo um simples perfume, numa vida quase sempre fétida?

Um sopro, uma cor, um sorriso... Säo os ventos, quizá, de renovaçäo, cara rua. A renovaçäo do mesmo.

Talvez agora já näo me pareça täo "pesado" vender, trocar, dar e imaginar incensos à vidas que väo na linha de querer estar vivo e belo.

Eu vou contigo, mesmo que chegue antes.

Um abraço

Lili