Cata-ventos Lunares: Abaixo sol, minguante de fevereiro de 2010.

Abaixo sol, minguante de fevereiro de 2010.

Amiga Rua:

Estou em Sucre, Bolívia. É tarde de fevereiro, como já apontei. Mate, violäo, e meninos de rua que falam inglês misturado com Quechua. Depois de dias de catástrofes (para os humanos) nos andes, o sol nos aquece no pé da montanha. Talvez näo täo baixo, talvez nas coxas. De toda forma, ainda se pode dizer que é um zona de mais calor. Isso é bom, pois ando em busca dos pontos erógenos de Bolívia. Agora, algo me aponta ao Sim. (Talvez as coxas)

Ando, e isso segue contendo toda beleza. Como isso de vender incensos. Andei buscando uma maneira de escrever sobre essa minha nova atividade, e heis, que hoje, ela surgiu.

E na verdade o conto nem surgiu de mim, e sim de Vicky e Juan. Näo importa, pois foi vendo o que está fora, que compreendi o que estava dentro. Taosticamente simples assim (agora pensei em Matias). Isso de inter-relacionar-se com culturas que misturam a miséria do capital, com a riqueza indigena, tem me sensibilazado muito, e tu, como sempre, colabora para esses olhares.

Bom... voltando aos incensos. Para que fique ao saber de todos, na Bolívia näo se comercializa (ou quase raramente) esses "palititos ambientadores". Entáo, cada vez que demonstro a novidade (porque muitos nem sequer conhecem), as pessoas ficam com um olhar paralizado de tanto fascinio à brasa que perfuma.

No começo me sentia um pouco como a colonizadora branca, que presenteia espelhos aos indigenas. Depois essa má sensaçäo foi se transformando. E Juan me fez ver essa transformaçäo.

Estava Vicky, fazendo macramê, e se aproxima Juan, menino de rua, engraxate, poliglota. Brincadeira, conversa, balas. Ele presenteia a todos uma bala deliciosa, menos a Vicky.

Até que ele encontra um saco cheio de palitinhos coloridos, e por curiosidade, comum a todas as crianças, pega um e começa observar.

Depois da série de perguntas dele, e de explicaçöes da nossa parte, Vicky propöe uma troca. Uma bala, por um incenso.

Prontamente ele lhe deu a bala, e saiu todo feliz, de olhos fechados, quase como em transe, sentindo o perfume do seu novo bem.

E eu fiquei pensando, no que sonhava? O que provocava em seu corpo um simples perfume, numa vida quase sempre fétida?

Um sopro, uma cor, um sorriso... Säo os ventos, quizá, de renovaçäo, cara rua. A renovaçäo do mesmo.

Talvez agora já näo me pareça täo "pesado" vender, trocar, dar e imaginar incensos à vidas que väo na linha de querer estar vivo e belo.

Eu vou contigo, mesmo que chegue antes.

Um abraço

Lili

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