Cata-ventos Lunares: 2010

Cerca de mi, nova de janeiro de 2011.

Extrangeiro de mim:



Falo assim, da maneira que sinto. Ou de experimentar o que um sente. De que um experimenta como vida.



Hoje, falo claro, sem pensar em memória, mas sim do que sinto agora. Ou seja, falo do simples verbo de experimentar.



Experimentar a posibilidade de tocar a história do outro. E essa liberdade de experimentar... sinceramente, me encanta.



A liberdade de sentir o que é a vida. Sem julgamentos, e cadeias.



Como me dice Cintia: "Vivo es sentirse bien, nada de eso que te dicen que te hacen bien, y si, lo que te ganas, y que sentis (adentro que te hace bien) que te haces bien."


Escrita.
Gosto do borrão
e sua permanência.



Fui, e toquei. Agora é uma marca. Compartilhada mais na pele, do que na idéia de amor supremo e absoluto.


Riscos do além (de mim)
que vão
e que vêm.



Outra história de final mal contado (pra mim, obviamente). Tão pouco tanto, claro, até porque a inexistencia de happy-ends nessa minha vida, é o que dá movimento, em busca de alegria. (Porque a felicidade, tem dias que não é compatível).

Meu ponto fixo
minha memória avessa.



Senhor extrangeiro, eu me desnudo com todo o prazer. Vamos conhecer.

Lilith

Sendo caminho do tempo, minguante de outubro de 2010.



“Soy la primera esposa

De tu padre, quien discutió

Con Aquél en lo Alto

Y obtuvo la Libertad

En la Oscuridad.

Yo soy Lilith.”

À quien me mira:

Me conecto com o prazer outra vez. Exatamente no momento (esse) que escrevo. Ando desfrutando a musica. Comendo e sendo comida por ela.

Ficar um tempo sem sexo humano me provoca pansexualismo com outras paixões.

Meu tempo parece repleto. Confesso que às vezes dá ressaca. Mas me permito, outro prazer, o descanso. Uma trilha sonora, e vamos adiante.

Produzir coisas em um. Produzir pequenices do cotidiano. Mirar-se, e ver coisas novas. E seguir adiante. A convicção está.

Há momentos que a palavra dignidade me parece confusa. Agora lhe sinto com força, e respeito. Creio que é o que impulsiona aos sonhos a persistirem. Pelo menos é como meu corpo responde.

Meu corpo responde ao prazer.

Da sua

Lilith

Siembra, Nova de setembro, de 2010.

mente fresca de pensamentos verdes. vai chegando a primavera, por fim.
estou movendo.

isso é algo importante de se escrever em uma carta. Passo meus labios selando o papel, te envio, e assim te chega:

Bom dia novo velho estrangeiro! Creio que já nos vimos antes, quizás muitas vezes, isso he passado.
a verdade me chega fresca, como os pensamentos. Fresca das manhãs, que já não doem em despertar.
estamos criando.

Escrevo não para ti, mas para reafirmar, o que talvez, compartimos. Espaços recuperados são laboratórios de artistas (digo assim baixinho pra que a vaidade não nos tome, outra vez a liberdade). Aspirar junto sonhos e projetos, tem sido uma das melhores realidades que já hei vivido.



Agora que agarrei a colher, nada escapa do meu caldeirão.

!Vamos arriba¡

Lili

Dias de calor, noites fugitivas, näo vejo a lua, agosto de 2010.

Camarera:


Te miré de lejos, y hice una señal. Fue engaño, nunca nos conocimos el suficiente.

Assim é. Eu duelando com a impaciência. Amor, assim, fica catatônico. Tenho um ódio desse näo tempo, às vezes. Mas tá... assim escolhi, e vamos até o fim... pra ver o que passa.

Contemplaste a tu izquierda. Grite que no. ¿Porque los dias se refugian en mis sueños de laberintos?

Vamos adiante. Pedalando pelas ruas de árvores velhas recém cobertas da luz de agosto, (busco novos caminhos) canto as canções que invento. E invento distrações, e invento desesperos. Daí, de tanto sentir-me, chego a um berço claro e esqueço.

Um mini livro manuscrito. Recheado de figuras miticas que se antepõem diante meus olhos.
Uma seriedade com o prazer. Uma relaxação com o mundo máquina.

Mientras cambias de ropa, salgo por la puerta que un dia me recebiste sin temor. Sigo derecho, errandome.

Quero tudo

da tua

Lili

Desassossego, Cheia de junho de 20010.

Flor de ameixa:


É raro que grande parte dos povos originários da américa do sul, marquem o "começo" de um novo ciclo através do solstício de inverno.
Isso me fez rever o inverno como estação de morte, de fins.

A idéia de "começo" indígena, me dá perspectivas de entender o inverno como renascimento, transmutação.

E o melhor é perceber essas idéias (um pouco simbolicamente metafísicas) junto a natureza patagônica, mais especificamente, na natureza dessa ilha negra.

Desde que cruzamos (com um rio de águas tranquilas e incomuns) os dias têm sua frieza cálida, de luz e beleza.

O verde predomina, em contraste com as ramas secas que buscam tocar o colorido do céu.

O fogo também tem importância vital, ao nos alimentar, aquecer, e obviamente ao embelezar o passar das noites e dos dias.

É um inverno de delícias, tenho que admitir. A colheita das azeitonas (negras e verdes), das granadas (gotas vermelhas), das maçãs (de verde luminoso) em seus respectivos bosques. O campo de malvas, criando ondulações de sombra e luz.

E a mim, que não sei nadar, me resta caminhar (feliz) lento, buscando um levitar com os dias.

Bem vinda a volta dos dias longos de sol.


Siembra

(Lili / Cintia / Gisele)

Quien hiria a imaginar
las situaciones
aqui vividas

y lo que me preocupa
es si vamos arriba

Hay que hacer siempre
lo que te hagas sentir bien
o por lo menos
intentarlo

y la lluvia tarda en caer

¿será por que no le encuentra
placer?

¿Cuantos colores pueden arder?

Descubrimos un nuevo
tiempo
El sin tiempo,

Y las guerreras mantienen
la isla
mientras
un soñador
enloquecido está.

Tiro lo que ya no sirve
esa es mi muerte.
Si sobrevivimos a esta
ya estamos preparados
para el fin del mundo
y volver a sembrar...


Vidas raras, de ações e pensamentos livres. O sonhador (enloquecido) diz estar seduzido pela morte elegante. Os úteros se reviram em si, afirmando a vida, sem palavras, mas com riso, canto e alegria.

O peso e a leveza de ser responsavelmente livres.

Em minha liberdade
elijo disfrutar

É de prazer
que se mantém
meu riso
meu canto
e meus sonhos

(capsulas vermelhas
do meu corpo)


Duas semanas isleñas. Um voô. A chuva se ameaça em tormenta, mas rapidamente os pássaros voltam a cantar.

Patagônia: seguramente nos reencontraremos.
Próximo destino: mar Pacífico.

Seguirei os bons ares.

De quem leva no peito, tormenta e calmaria.

Lili

Vento com chuvas, Nova de Junho de 2010.

Caro Sul:


Meu corpo conhece alguns arrepios. Quero mais. Me dizem que tens mais a me apresentar.
Sim, finalmente a patagonia, em seu apice. Conhecer-te nas primeiras luas da estação de morte, eu em estação de vida, de recomeços, de acontecimentos felizes, de amizades.

Sinto que não podia ser em outro momento.
Uma ilha, alguns instrumentos, e poucos e valiosos amigos.

Meu quarto de século, nesse quarto de lua de partida. Escape curto, que me deixa tranquila e contente.

Malas quase prontas, entrega, é o que sempre move as águas paradas desse corpo.

Sem mais esperas, passado uns dias conversaremos de perto. E como é bom estar perto. Como é bom compartilhar a pele, de perto.

Calor e vento, Pronto nos sentiremos.

Da moça que sonha (há muito) conhecer-te

Lili

Costura, Nova de Maio de 2010.

Centro da Terra:

Montei um ponto fixo. Anti-cismico. Apesar de saber da tua força de deseixo.

O corpo busca um desiquilibrio calculado. Eu tento, mas às vezes comunicar pelo teatro me soa falso.

A vida se dá em colcha de retalhos, dos quais, na maior parte do tempo, quebro cabeça tentando uni-los. E aí, quando vejo, ou melhor, quando relaxo e provoco meu próprio desiquilibrio (se é que posso chamar desiquilibrio o ato de atirar-me à corrente de acontecimentos), os pedaços se unem, e formam figura, capas, cascas, terra rejuvenescida.

"Para sempre jovens", é um pedaço de meu irmáo que sempre terei. Tenho a costura em máos outra vez, crio meu próprio caos de pedaços.

A única verdade que possuo agora, sáo as linhas que traço. Confio no tempo, pois ele se abre em trilhas renovadas.

Encontrei sossego no lar para criar, e acompanhar as novidades de fora.

Meu eixo sáo as linhas que dançam, e náo se fecham. Mas se encontram.

Qual é o teu?

Ainda durmo escutando o pulsar do teu coraçáo.

Da tua

Eliane

Aluga-se, Minguante de Maio de 2010.

Caro Desvio:

Te pergunto: é tempo de parar ou seguir, demenciar ou racionar?
Tá bem, tá bem! Já entendi que a vida é uma caixinha de surpresas. Saio com meu vestido Tim Burton e tudo de mais freak me acontece.

Tive a chance de correr pro mato (literalmente), mas näo, de novo segui a direçäo contrária.

Hoje limpei o pasto, desafoguei o boldo e a alfazema. Voei sentada no balanço de sombra mansa.
Matei as ervas espinhentas.

O coraçäo tem vivido dias raros. Às vezes mantém silêncio de tumba, e quando fala, é atropelado.

Já sei que vou mais ao sul. Dizem que lá andam precisando de mim... Pois é, também ando precisando de mim. Quem sabe lá nos encontramos.

Enquanto isso, ensaio as danças de desapego. Enquanto isso, estou aqui, limpando o jardim, escrevendo um mini-livro-acolchoado, buscando luz na minha concha.

Ah, e também disfrutando dos beijos que me chegam.

Bom... sigamos os nossos rumos.

Mundo estrangeiro, Minguante de Abril de 2010.

Cara Matemática:

És linguagem de muitos. Mas na verdade, são muitos com quem conversas? Quem sabe das tuas compostas composturas? Eu creio que sei algum dos teus segredos, que se bem me lembro me contava em meus momentos de entre sono. Talvez de propósito, sempre de propósito.

Mas e o teu infinito, quem o conhece?

Eu dançava, noite passada, pensando nas quimicas da música eletrônica e da dança.
(Como comentei, com uma amiga, o corpo andava precisando pensar)
Nesses encontros de números em movimento. Ou simplesmente nesses encontros. Pois está além da dança motivada pela música. Creio que me pego dançando (lo que sea) os meus pensamentos.

O fato é que tentativas lógicas de raciocínio me deixam enamorada. Ainda mais quando não é só o cérebro que sente.

Pensei em fazer uns trabalhos labotariais com roupas, já que são segunda pele. Já que a segunda (membrana) às vezes é mais importante, ou segura, ou prazerosa, ou sedutora. Os "ous" podem ser muitos. Assim como o teu infinito.

"Cada signo é infinito", um outro me dizia. Mas tem dias que eu prefiro uma história bem contada, do que um desabafo existencialista.

Isso também é possível.

Tchecov apaixonar-se por Simone.

Isso também é possível.

Acho que viver o passado me anda impossível (por sorte).

Da tua acompanhante.

Lili

Nova linha, Minguante de Abril de 2010.

Hora Mágica (ou aquele momento em que o pôr-do-sol te toma):

Eu acredito nos acontecimentos. Todo esse ir e vir, reencontros e desencontros, me transportam para uma única coisa: o novo. Vi as mudanças trincadas (ou esculpidas) na pele e na fala de cada amor extraviado. Extraviado é só maneira de não poder definir bem, as relações profundas dentro do meu caos de fugacidade.
Parece rápido, mas não é.

Parecem milagres (sim eu ainda acredito em milagres), mas são só (e isso não é pouco) ilusões. Eu me ilumino sobre as pedras, ditas, vulcanicas. Daquela cor alaranjada, avermelhada, amarelada. Daquela cor da hora mágica, em pastagens antigas, em eterna mudança.

Daí me reconheço. E penso nos tons da minha próxima casa. Penso de como, daqui pra frente, vou lidar com as distâncias. Quem sabe conheça (se já não a conheço) uma cientista maluca, que me decomponha em moléculas de teletransporte. Enquanto isso, uso da telepatia que me favorece o amor.

Ou ié beibi. Dessa vez não pude controlar o choro nos desenlaces... talvez meu corpo também se aprofundou nas mudanças.

A gente canta e dança, pra seguir nessa andança.

Da tua companheira

Lili

Desintegração de corpos, crescente de março de 2010.

Caras paredes azuis (agora amarelas):

Eu não tirei tua cor, apenas as palavras e móbiles e pêndulos de memórias bem guardadas. Tão guardadas como um segredo (que já quase esqueci).

Entram outros corpos, o azul ficou (às vezes) ausente da minha vista. Entrou o cinza, o negro, o escuro da noite cheia de silhuetas.

O imaginário turistico que compartilhava contigo, de Buenos Aires, entrou em choque com a pele nova, que aprendeu caminhos do porto e seu oposto.

Talvez vazia, contigo vazia, busquei a igualdade, pois assim como tu, eu escuto, escuto tudo o que se tem a dizer.

Inclusive os milagres. Compartilhar a beleza do silêncio e da luz (que voltou).

O berço da amizade é leve e acolhedor, só faz falta dançar de olhos fechados.

A verdade, é que algo sempre faltará. A sede de construir um mundo novo, ou melhor, uma nova realidade, nunca se sacia. É assim meu degustar, é assim que quero.

Disfrute tua roupa nova e finja que nunca nos vimos.

Lili

Giro de 360 dias e graus, crescente de fevereiro de 2010.

Ninho quente:

Pensei que sempre serias o mesmo. Afinal tudo volta pro seu (mesmo) lugar. Mas não.
As noites são úmidas e quentes. As brigas foram substituidas por trocas de afeto. O universo parece ter se conectado comigo, outra vez.

Ainda amo o mesmo rapaz, e agora ele voltou a falar comigo. Diz que sente vontade de me ver. Tudo isso me parece fantástico. Me parece fantástica a amabilidade, que o fato de voltar a essas linhas, fez chegar até mim.

Demasiado romantico, mas o fato de estar um ano longe, fez eu ter um contato intimo contigo.
A rotina descompassou-se. Já sinto falta do estranhamento da falta de intimidade com territórios. Mas por hora não, isso não passa. Como disse, estou intima, reconhecendo as coisas imutáveis no teu rosto e na tua maneira de ser.

O caminho até ti foi penoso. Teve momentos de choro e cansaço profundo. Algo parecido ao trajeto de um mártir. Esperando teus braços como um troféu. E eu os ganhei. E me envolvo neles agora. Forte e segura, cada vez mais.

Antes dizia que me sentia forte de estar viva. Hoje já é muito mais que isso.

A vida não está pra ser ordinária, e sim extraordinária. Morte ao medíocre! Sempre se pode buscar mais da vida. Eu ando pelo mais.

Livre e descalça danço.

da tua

Eliane Rubim

Pode ser a volta, nova de fevereiro de 2010.

Ao caminho:

Pensava muito sobre descubrir-te sempre novo. Com outras curvas, penhascos e nuvens. Agora quero ver-te como uma maneira rápida de voltar. VOLTAR? Sim... já quero voltar. Finalmente ir aos abraços de quem amo, e amo para saber que posso voltar.

E impulsiva que sou, quero que seja agora. Estou em La Paz, vislumbrando montanhas cordilheiras cobertas de gelo. Outra vez estou sem respirar bem, com dores de cabeça, e enjöo. Definitivamente a altitude exacerbada dos andes näo me faz bem.

Ademais, sinto cansaço. Sinto que jà estou em tempo de recarregar baterias. Alèm de rever-me, depois desse ano de andar.

Tu és o que tenho de mais duradouro, e sei que sempre estarás. Assim... que seguiremos nos vendo. Só que agora o sentido é outro. Mais próximo do coraçäo, talvez.

Vamos ao sul! Ainda gosto das partes baixas...

Da sua companheira

Lili

Abaixo sol, minguante de fevereiro de 2010.

Amiga Rua:

Estou em Sucre, Bolívia. É tarde de fevereiro, como já apontei. Mate, violäo, e meninos de rua que falam inglês misturado com Quechua. Depois de dias de catástrofes (para os humanos) nos andes, o sol nos aquece no pé da montanha. Talvez näo täo baixo, talvez nas coxas. De toda forma, ainda se pode dizer que é um zona de mais calor. Isso é bom, pois ando em busca dos pontos erógenos de Bolívia. Agora, algo me aponta ao Sim. (Talvez as coxas)

Ando, e isso segue contendo toda beleza. Como isso de vender incensos. Andei buscando uma maneira de escrever sobre essa minha nova atividade, e heis, que hoje, ela surgiu.

E na verdade o conto nem surgiu de mim, e sim de Vicky e Juan. Näo importa, pois foi vendo o que está fora, que compreendi o que estava dentro. Taosticamente simples assim (agora pensei em Matias). Isso de inter-relacionar-se com culturas que misturam a miséria do capital, com a riqueza indigena, tem me sensibilazado muito, e tu, como sempre, colabora para esses olhares.

Bom... voltando aos incensos. Para que fique ao saber de todos, na Bolívia näo se comercializa (ou quase raramente) esses "palititos ambientadores". Entáo, cada vez que demonstro a novidade (porque muitos nem sequer conhecem), as pessoas ficam com um olhar paralizado de tanto fascinio à brasa que perfuma.

No começo me sentia um pouco como a colonizadora branca, que presenteia espelhos aos indigenas. Depois essa má sensaçäo foi se transformando. E Juan me fez ver essa transformaçäo.

Estava Vicky, fazendo macramê, e se aproxima Juan, menino de rua, engraxate, poliglota. Brincadeira, conversa, balas. Ele presenteia a todos uma bala deliciosa, menos a Vicky.

Até que ele encontra um saco cheio de palitinhos coloridos, e por curiosidade, comum a todas as crianças, pega um e começa observar.

Depois da série de perguntas dele, e de explicaçöes da nossa parte, Vicky propöe uma troca. Uma bala, por um incenso.

Prontamente ele lhe deu a bala, e saiu todo feliz, de olhos fechados, quase como em transe, sentindo o perfume do seu novo bem.

E eu fiquei pensando, no que sonhava? O que provocava em seu corpo um simples perfume, numa vida quase sempre fétida?

Um sopro, uma cor, um sorriso... Säo os ventos, quizá, de renovaçäo, cara rua. A renovaçäo do mesmo.

Talvez agora já näo me pareça täo "pesado" vender, trocar, dar e imaginar incensos à vidas que väo na linha de querer estar vivo e belo.

Eu vou contigo, mesmo que chegue antes.

Um abraço

Lili

O estômago me guia e me traiciona, cheia de janeiro de 2010.

Ponto Alto:

Eu chego ao teu ouvido. Minha respiraçäo é escassa, forte, e imponente. Tenho vontade de viver, muita. Quem vive no alto também tem a mesma força.

Säo pessoas baixas (e para que ser alto quando se está perto das nuvens), que näo se chocam com seus pensamentos. Assim como eu me choco. Tenho me chocado muito. Estou partida em muitas lilis. Até de tamanho, creio, que diminuí.

Mas o sorriso vale mais, sempre vale mais. "la buena onda" como dizem.

Me encontro, desencontro, reencontro. Ainda em constante estado de fronteira.

Dormi em uma caverna. Me abrigou do frio, e me deu a visäo inacreditável do salar de Uyuni (segundo dizem a primeira maravilha do mundo... eu acredito que seja).

Noites de lua e de frio. Já é carnaval nos andes. Muita musica me tira a sensaçäo de tontura e falta de ar...

Me sinto grande... por todas histórias que pontuei em meu caderno, e que preciso escrever...

O melhor de tudo é que vivi tudo, ao máximo.

E assim segue o baile.

Vou a rua dançar com os indigenas andinos.

Nos vemos, ou nos sentimos.

Um abraço

Lili

Morte à civilizaçäo, nova de janeiro de 2010.

Caras Pedras de areia:

Vocês me beijaram, mesclaram-se em minha pele. A Quebrada das Conchas está repleta de duendes. Os habitantes humanos desse lugar säo esses duendes. Também mesclados e beijados por vocês.

E como escutei o silencio, os cantos, os doces timbres de sol e chuva. Conheci nossa mais nova companheira de viagem. A singular Isis. Sobre ela preciso escrever mais um livro.

Percorrer as montanhas, os rios marrons, a busca por cada estrela e constelaçäo que a mim surgia.

Foi uma dor voltar a cidade. Voltar ao egoismo, às paredes, à segurança privada. Quero ir de Salta já. Até porque descobri que meu love story está "me esperando" em Tilcara... e bom... é preciso seguir viagem.

Mas además disso, caras pedras de areia, preciso dizer, o tanto que olhei para seus desenhos talhados pelo vento, para as luzes e as sombras, para as formas e as inconstancias, me deu um horizonte muito além das tuas montanhas. Me reencontrei, e isso foi fantastico.

Chega de adiar a beleza, quero ela aqui, sempre comigo.

Da tua

Lili

O Centro de tudo é o Nada, minguante de janeiro de 2010.

Aos Reclames da Terra:

Hoje säo 23/12. Estou no Terminal de Asunción. Faz calor, e nosso caminho nos leva para mais calor. Näo vejo a hora de mesclar-me na estrada. Viajando de carona e toda mágica. Ônibus me matam.

Terceiro e ultimo dia aqui. A noite de ontem nos presenteou. Mas esse calor... ai, quase nem penso.
Augusto se preocupa com o pouco dinheiro. Agora eu também, mas sei que isso se soluciona, basta movimentar.

A poesia desta cidade é triste.

"Hungry again..."

Sempre faminta
Sempre na busca
da brecha da vida
Onde possa escutar
meu coraçäo.

Onde possa refrescar-me
na verdade
composta de água, terra,
ar, fogo e vento.
e näo papel e números

já näo... näo me desespero
a noite sempre vem.

Manhä/ Natal / 09. A tempestade robou meu sono. A tempestade completa. O seu caos, o seu medo, o seu ruído. Estou na beira de um rio, o qual ainda näo aprendi seu nome, localizado em Herradura, na provincia de Formosa - AR. O porquê e a maneira de como chegamos aqui ainda me parece um pouco absurda e mágica.
O fato é que chegamos para presenciar a tempestade. Sentida de perto, me dando aquela sensaçäo de pequenez, e de confirmaçäo de que sou só (e isso näo é pouco) parte de tudo. Ruidosa, ventosa e bela.
Agora já se foram os humanos ruidosos (que depois passada a tempestade, vieram para manter-me desperta). Creio que agora, ao escutar o vento, e sentir o céu nublado, me permito dormir.

29/12 - madrugada. Dias tranquilos en Herradura. Tranquilos na linha com o tédio. Dizia a Augusto, em uma (das tantas que tivemos) das discussöes, que minha vida está para o extraordinário, e näo para o ordinário. Voltamos a Formosa com o plano de trabalhar no semáforo e em seguida ir para a Estrada ruma à Salta. O extraordinário provindo desse movimento, foi uma segunda averiguaçäo ditatorial e fascista da polícia, enquanto estavamos brincando com algumas crianças. Parece que palhaços säo vistos como demasiado perigosos para a pacata capital de Formosa. Näo conseguimos trabalhar.
O Plano de juntar um pouco de grana nesse dia foi-se à merda. Agora é a vez de Augusto dormir enquanto vigio nossas mochilas.

Estamos na rodoviaria esperando o amanhecer para ir à estrada e dar seguimento ao plano de seguir viagem.

O "bom coraçäo" cristäo da cidade nos permitiu a näo passar fome, mas um bom coraçäo cristäo, como bem se sabe, näo alimenta nada mais que a compaixäo, um bom coraçäo cristäo näo passa de um coraçäo infeliz e hipócrita.

Por sorte a música e as belas paisagens me acompanham. A humanidade está errada, por sorte a vida é maior que esse erro.

P.S.: Popular Songs, de Yo la Tengo, é um acerto dentro da humanidade.

Feliz Ano Novo. Em um lugar onde a velha miséria de cor marrom permanece, é o sítio da "minha virada". Pampa de los Guanacos em Santiago del Estero. Outra vez na fronteira. Essa é entre Chaco, Santa Fé, e Salta.

Recebi o ano novo limpa e nua. Abaixo de uma água que é täo rara e preciosa num lugar como esse. Os últimos dias foram de resistência, como o nome da capital de Chaco, para onde nos deslocamos depois de Formosa.

Essa "coisa" de sobreviver, resistir e rir me seduz nesses lugares esquecidos por todos. O tempo é um eterno domingo. Muita coisa pode acontecer em um ano. A terra dá 365 giros. Meu corpo somente acompanha esses giros. As invençöes do homem pouco ditam sobre a liberdade da maneira de escolher viver a vida. Às vezes me dou por impulso e paixäo. Procuro um esboço, de onde quero chegar mas säo esboços.

Os caminhos sempre säo o que existem de mais interessante e de mais concreto. Chegar é sempre como sonhar que se desperta de um sonho.

Hoje, 5 de janeiro. Ainda na Argentina. Em Salta, Capital. Lugar lindissimo. A cidade dentro de uma panela de montanhas verdes. Muitas histórias. Nos hospedamos na rua. Conhecemos outros viajantes (literalmente e metaforicamente). Nos hospedamos num hotel abandonado. Fudi nesse mesmo hotel. Estou tendo um love story. Hoje me vou, e tchau love story.

Houve Taco Pozo, e o Martin. Estavamos na rodoviaria, ele aparece, todo simplório e lindo, e nos hospeda. Nos leva a conhecer o pouco do muito que era pra ele, aquele lugar. Tenho a brilhante idéia de presentea-lo com um piercing em meio a praça principal. No momento de colocar a jóia, falta luz...
Espero, espero... quando a luz volta, simplesmente a policia está atrás da gente, pedindo nossos documentos. Augusto näo os tem. E com toda paciência do mundo, o policial diz: "Fiquem tranquilos, voltem a rodoviaria, peguem os documentos, e väo até a delegacia, fazer "averiguaçäo"."
O pior, foi que fizemos exatamente isso.
Bom... meia hora depois, de um interrogatório gigante, um dos policiais nos diz para näo andar con "esse tipo", pois é meio "taradinho" (idiota em argentinês) e às vezes le dá de afanar coisas.
Martin, querido, do lado de fora da janela, fazendo senhas, para saber se estava tudo bem... Me deu uma raiva...
O meu protesto foi o amor. Dei todo meu carinho, público, enquanto as pessoas se riam, do "loquinho" e sua nova namorada. Mas igual sentia que precisava fazer isso, retribuir todo amor que ele entregou, de maneira que nenhum desses caipiras conseguiria uma vez na vida.

Assim começou dois mil e dez.

Amor e revoluçäo

da sua parte

Lili