Cata-ventos Lunares: 2009

Agora eu mato a cobra e mostro o pau, nova de dezembro de 2009.

Cara memória dos meus nascimentos:

Hoje são 18 de dezembro. Depois falo de ontem. Primeiro (e sempre primeiro) o agora. Estou numa praça, chamada Naipi, perto de um shop's de Foz (onde dei uma cagada há alguns minutos atrás), perto de mim. Conheci as Cataratas do Iguaçu. Uma beleza sublime. Todo o parque (nacional argentino) um esplendor. Fecho os olhos e ainda vejo a água em queda brutal, harmonizada por nuvens refrescantes e arco-íris gigantes.
A lua é nova, e a noite nem tão escura quanto gostaria. Mas, apesar da noite de aniversário frustrante de ontem, fui totalmente recompensada pelo dia de hoje. Satisfeita é como me sinto.
Dois dias atrás estive em um templo budista, um jovem monge japonês sorria. Não sei se era pra mim, mas acreditei como se fosse. Outra imagem para fechar os olhos a espera de lindos sonhos.
Ontem pela manhã tudo começou bem. Café da manhã sofisticate, passeio pelo parque das aves (todas as cores eram flamejantes). À tarde chega a família do Augusto. Conversa, chimarrão, cigarros, mais conversa, comidinhas... tudo tranquilo. À noite fomos em busca da festa de aniversário, e tudo mal. Resumo da noite: nos pechamos com pentelhos idiotas, dos quais fugimos para um lugar mais idiota. Duas e meia, depois de incrivelmente espantar-se com os absurdos da cidade, comimos e dormimos.
Talvez nem sempre a noite seja minha salvadora. O que me salvou o dia, na verdade, foi colocar uma cobra no pescoço (literalmente). Sua pele fria... hummmm, me deu vontade de me transformar nessas dançarinas e encantadoras de serpentes (no figurado plural).
Uma semana longe de Bs As e extraño, além da cidade, algumas pessoas. Mas os dias permacem com sua tranquilidade caótica de acontecimento. Tudo igual, por ser sempre novo.

E seguirei... o mundo é grande.
Abraço da sua
Lili

Muitas luas na lua nova de outubro.

Janelas rosas:









Faz muito que não leio o que escrevo. E hoje, depois do cansaço, e antes da tempestade, resolvi revolver meu lixo e ter o que te dizer.









Agora com mais calma, e menos aflição. Agora sem dores, e solidão.









Assim começo: o tempo só me alcança enquanto dança. Eu ainda amo o mesmo rapaz cheio de calma, ardor e ausência. Meu corpo ainda mutua de maneira constante. Desperto bem, muito bem.









Assim diz outra carta:









“Leio demasiado. Minha língua são múltiplas. Encontrei (nos encontramos) o meu escritor argentino, e agora já marco o fim do meu estado de sítio.”









Assim diz o (meu) escritor:









“Por eso a mí me gusta meterme en las vidas ajenas, vivir todas sus secreciones, todas sus esperanzas, sus buenos y sus malos humores.
Por eso a mí me gusta rumiar la pampa y el crepúsculo personificado en una vaca, sentir la gravitación y los ramajes con un cerebro de nuez de castaña, arrodillarme en pleno campo, para cantarle con una voz de sapo a las estrellas.
¡Ah, el encanto de haber sido camello, zanahoria, manzana, y la satisfacción de comprender, a fondo, la pereza de los remansos… y de los camaleones!...
¡Pensar que durante toda su existencia, la mayoría de los hombres han sido ni siquiera mujer!... ¿Cómo es posible que no se aburran de sus apetitos, de sus espasmos y que no necesiten experimentar, de vez en cuando, los de las cucarachas… los de las madreselvas?
Aunque me he puesto, muchas veces, un cerebro de imbécil, jamás he comprendido que se pueda vivir, eternamente, con un mismo esqueleto y un mismo sexo.
Cuando la vida es demasiada humana - ¡únicamente humana! – el mecanismo de pensar ¿no resulta una enfermedad más larga y más aburrida que cualquier otra?
Yo, al menos, tengo la certidumbre que no hubiera podido sopórtala sin esa aptitud de evasión, que me permite trasladarme adonde yo, no estoy: ser hormiga, jirafa, poner un huevo, y lo que es más importante aún, encontrarme conmigo mismo en el momento en que me había olvidado, casi completamente, de mi propia existencia.”

Assim segue a mesma carta:









“Há também os pensamentos. Lilazes, roxos, celestes, glaciais. Foi-se o inverno. Foi o mais protegido, do lado de fora, da minha vida. Fiquei a sós comigo mesma, a sós com meus (todos meus) pensamentos. Como me é dado em ciclos.









Ando revendo minha sexualidade. Não sei se tanto, mas tenho me chocado com novas idéias, ideais, saborizadxs. Outros sabores, entendes?









O excesso de gravidade, nesses últimos meses, me pôs em movimentos lentos. Deu tempo de ver os detalhes. Um universo deles. E foi através desses universos de detalhes, que os acontecimentos foram se dando. Se doando, se entregando.









Eu ainda amo o mesmo rapaz de antes. Fui para o outro canto, nem tão longe, pra me desenvolver dele, me desenvolver do outro e me desenvolver em mim. Agora tenho uma janela ao alcance dos meus olhos e dos meus pés.”









O amor podia ser o tema de todas as cartas, de todas as danças, de todos os sopros (ainda sei ventar, e me pôr dentro do vento). A história que eu gosto de contar ganhou dezenas de cenários e personagens. Mas ainda não me desapeguei das maneiras que Shakespeare me ensinou a narrar e construir meus romances. Claro que não pelo romantismo das palavras, mas sim pelo romantismo das casualidades (se é que posso chamar todos absurdos assim).









Absurdos me divertem. Anoiteceres cada vez mais me despertam. Construí amigos. A beleza voltou a morar com a gente. A beleza e seus respectivos rituais.









Bruxa outra vez! Que lindo! Lindo, dançar acompanhada, rir acompanhada, chapar-se acompanhada, cuspir acompanhada. O valor da vida está presente.

Lili
(com todo prazer)

Quarenta e cinco graus, Nova de junho de 2009.

Estaçäo final (ou velho inverno), Zero grau:




Hoje data 22 de junho. Estou catatônica. Inerte pela sensaçäo de impotência e amargor por o mundo estar triste, como está.




Eu digo sim ao Caos, mas o fluxo parece estar contra. Tenho dores de cabeça, e um desconforto constante. Acho que até o amor que estava cultivando de maneira vivaz, tornou-se frustrado e rejeitado.




Sinto raiva, toda raiva, e sei que isso machuca mais à mim do que os objetos desprezo. Acho que é hora de dar tchau. Näo sinto mais esse lugar como lar, e tampouco meu corpo está acomodado aos outros móveis. É hora de incendiar os dias. Se eu entrasse no fluxo, e cria-se outras perspectivas... mas tampouco o mundo é uma criaçäo unicamente minha, a vida é um ato gerativo de todos e em todos.




Meu corpo quer apenas fugir, só näo sei até quando.




Hoje arrumo o casco, e permaneçó catatônica pelo ódio. Tenho que resolver uma coisa de cada vez, tampouco serve ser demasiada inteligente agora, e querer estar sensível e à espreita de todas possibilidades de acidentes e acontecimentos.




Agora sou apenas um "acidente esperando acontecer". Vou mover em breve, e ver o que acontece.




O mais louco é sentir que tudo é irreversível. Saber isso hoje é penoso e pesado. Me sinto como uma cristä de merda.








Estaçäo final, outro dia, 45 graus:




Antes um símbolo queria muitas coisas. Com o passar do tempo se buscou exatidäo, para evitar equívocos (fugir da dor do Kaos), até que entäo tudo foi ficando cada vez mais solitário e isolado de todo.




Dessa vida de fragmentos, só nos restou a certeza da dúvida, e a beleza mortificada pelo cinza e a geometria. Mas mesmo assim se busca estar inserto. Parecer-se com alguém, ter um modelo a seguir. Querer estar dentro do todo.




E para isso se busca uma religiäo, consumir algo que está em moda, e que é dito, indispensável. Busca-se um companheiro, alguém que goste dos mesmos modelos que você. Enfim, busca-se uma identificaçäo com a vida, mais diretamente com as pessoas (já que há pessoas que conströem suas vidas ao redor da vida de outrém). Busca-se o comum.




E que é o comum? Os modelos a seguir, ou a simples condiçäo de ser? Existir sem regras pré-estabelecidas. Existir simplesmente. Com tudo que há de sinuoso, incerto e inesperado. Existir para as possibilidades, e para a beleza criada a partir delas.




O homem brinca de ser deus, mas nunca leva a sério esse jogo. Quer ser deus de um modelo de homem só (e de um olho só), de uma realidade apartada do todo. E quer isso porque sabe que näo pode ser senhor do todo, porque sabe que é minusculo, e seu poder só existe para aqueles que dormem de olhos abertos e que nada vêem.




O único possuir é a vida que temos. Näo há outro poder alèm de ser consciente e responsável de que és parte do todo. Pensar em outro poder, é violar e violentar, e mais que tudo, ficar sozinho de maneira impotente e dolorida.




Se a vida é para ser criada, eu elijo que ela seja bela e prazerosa.






... (ainda 25/06, 90 graus, ainda é giro)




Desperto depois de revolver o sono. Primeiro um mal humor me assola. Ataqui de zelo e todo más. Ao meu lado três corpos ébrios (fazem dias que näo durmo sola) ressonam um merecido descanso. Eu já näo posso mais dormir.




É manhä, o melhor horário que meus pensamentos desajunam. Penso que quero ler o livro de artes que Analia me passou ontem a noite. Se chama "Dialogo com o Visível". Está em francês, e penso que seria bom lê-lo para exercitar a lingua. Fora o exercício percebo que o livro é interessante, ou seja, me faz pensar. Penso no que é imagem. Penso sobre o olhar de uma forma que ainda näo tinha pensado. Penso nos símbolos, na comunicaçäo, na arte, na sensibilidade. Coisas que geralmente reflito, e que a cada nova vez o pensamento é mais profundo, buscando um amadurecimento. E ademais de todo o sentido "intelectual" que esses pensamentos me trazem, sei que eles só amadurecem porque tem um sentido "vital" para mim. Esses pensamentos acompanham minha história e minha sensibilidade de maneira íntima. Afinal, näo há outra maneira de levar a vida, a näo ser de forma íntima.




E estar íntima é estar em casa. Passou a necessidade de fugir, pois já näo me sinto mais sozinha, impotente e doída. "Tengo ganas de bailar..." outra vez.




O mundo é grande, e gira, já diria meu amado irmäo Buda.




Vamos ver quantos graus ainda me aguardam.




Me despeço dos dias ruins e amargos, e sorrio para a vida, e ela me sorri de maneira sedutora.




Lili


Peste Negra, nova de junho de 2009.

pele-muros:






Estou apaixonada. Ainda näo tenho bem certo se foi o efeito sintético da pastilha do amor, ou se foi o convite para fazermos amor sob a chuva. Visualmente é bem normal... tem um ar poético, mas mais pro sarcastico, é vegetariano, ama bici, cultiva maconha em casa, tem rituais com drogas, é divertidíssimo, e a melhor parte. É a melhor pessoa que já fudi em toda minha vida disparado. Ai ai. Fazem três dias que näo ando, apenas flutuo. Acho que me engatei, ou seja, me fudi.


Mas tudo bem, estamos aqui para isso, ademais, em breve terei uma bici, e isso me motiva fortemente a continuar sorrindo.










Diego:



Queria compartilhar contigo uma experiência sensorial que tive. Se näo foi a maior, posso dizer com certeza que foi a mais intensa.



Mas antes de começar, queria dizer que tudo que vou contar pode parecer mais para conto erótico do que uma tentativa de ensaio-sobre-a-pele [em açäo com outra(s) pele(s)], mas quero que tu escute (mais) o que vou dizer quanto às sensaçöes. [Enfim tudo (ainda) é corpo]

Foi na segunda vez que fiquei com um mesmo cara que conheci num lugar trashera (boate - putero - pop). A primeira vez que ficamos já foi suficiente preu entrar em um estado de encantamento.

Estou vivendo numa atmosfera até entäo desconhecida. Uma atmosfera onde o caos e a paz transam perfeitamente.

Tudo isso fez com que eu procurasse, novamente, um dos motivadores desse novo ar.

O encontrei, anotei o telefone dele (até o medo de telefone to perdendo... hahaha), nos beijamos. E é apartir daí que as sensaçöes säo totalmente novas pra mim. Algo embasbacante. Posso me deslocar além-espaço-tempo. É täo fascinante näo sentir o ao redor, pois esse é um "espaço" onde todo o corpo é inteiro quanto ao sentir. Se pode focar o cérebro seja qual parte for de todo o organismo, e a consciência será de total entrega ao prazer.

Há momentos que os olhos abrem e encontram novamente a boate-putero-pop, e como é comum nesses lugares há um espaço um pouco retirado no escuro, para que näo se vejam o cru e todo o demais que já está mais que explicito. Ou seja: sombras à nudez, e luz (muita luz) à dança de hipocrisias.

Fomos às sombras, e näo escuridäo (preste bem atençäo). Ou seja, ainda era dada a possibilidade de ver, e ser visto.

Ver e ser visto. Perceber e ser percebido. Comer e ser comido.

A comilança foi um banquete farto para muitas bocas e olhos gulosos. Nos sentamos em um sofá e logo começou a juntar curiosos ao redor. Esse espetáculo de voyerismo funciona como assistir um filme pornô caseiro. A diferença está em que se pode intervir no filme falando, tocando ou interagindo com os demais aatores. Quem vê também pode ser ator. Quem se farta com os olhos, pode ter o desejo realizado de saborear.

Os voyeres que nos viam podiam fazer irro, mas näo fizeram. Apenas se contagiaram do transe que exalava nossos corpos. Eu me perdia na escuridäo dos meus olhos fechados, para estender minha pele ao limite do prazer. E sabes bem meu caro, que a melhor forma de sentir prazer, é compartilhar prazeres.

Eu sentia uma sintonia, mas näo era só por ele, mas (de como já disse) da atmosfera que se cria ao estar com ele. Tudo estava junto: os olhos que näo tinham mäos, a minha boca no pau dele, a música que de täo ruidosa era quase silêncio, as vozes que iam e vinham, um estar e näo-estar.

Pois creio que é isso que passa ao fuder para um público, oscilar entre estar presente ao prazer dos mirantes, e ao prazer do toque de um único ator.

E olhar nos olhos de todos os olhos, que também me olhavam, era como buscar um ponto de fuga, um ponto de descanso em meio aquele abismo de sensaçöes.

Porque é excitante que vejam minha entrega de maneira täo crua e intensa?

E porque näo seria?

Ele gozou na minha cara, e aquele jorro quente despertou as mäos dos olhos sedentos. E já näo via mais olhos, sim um mar de paus eretos vindo em minha direçäo. Ainda cambaleante, e limpando com os punhos a minha cara gozada, tentei me livrar daqueles tuídos e toques, que me diziam tantas coisas que näo queria escutar. Eu busquei ar e luz e solidäo, para poder disfrutar do meu transe. Dancei muito, para afastar a sensaçäo de que ainda haviam olhos sedentos me buscando.

Fechei os olhos e dancei. Quando os abri, encontrei um olhar sereno, o ponto de fuga.

Fui ao encontro desses olhos. "Me gusta tu onda", foi o que ele me falou com a maior calma e sinceridade do mundo. E de novo se fez "a atmosfera", e de novo tudo estava conectado, mas dessa vez, iluminado.

Eu via tudo. Sentia tudo. Estava plena.

Sinto que Santiago é um esteta, um admirador pleno dos prazeres raros. Já me confessou alguns prazeres que lhe encantam (caminhar sob a chuva, cultivar sua própria erva, andar de bicicleta ao vento), mas sem que me confesse posso sentir em seu corpo de tom tranqüilo e sábio, de que é um grande apreciador da vida.

Na primeira vez que nos encontramos, eu tinha confuso se tudo que senti era real, ou se foi ajuda das drogas (ecstasy e maconha orgânica pura flor), já que as sensaçóes foram täo agudas, täo gigantes e inexplicáveis. Por isso no segundo encontro me propus a sobriedade, e para meu espanto, tudo foi täo poderoso quanto a primeira vez.

E que bom está sendo. Os dias estäo fáceis, meu corpo está mudando.

E sinto tudo e todo.

Um abraço enorme, com toda saudade

Lili

Agora que o pior já passou, minguante de maio de 2009.

Ao meu útero (onde quer que ele esteja):

Hoje data 12 de maio. Lembro de minha mäe. Näo sei bem porque pensar em mortos sendo que sou eu que me sinto morta hoje. Ai näo sei. Cansada de näo ter amigos (e quem é meu amigo sabe de alguma maneira o que siginifica "ser amigo"). Tudo é täo longe, dá preguiça às vezes de manter superficialidades só pra näo se sentir sozinha. Foda-se, assumi a solidäo, se antes näo forçava a amizade näo é agora que isso vai se dar. Sei lá, tô um pouco desencantada hoje. Talvez a TPM ou a näo-TPM (pois pra variar to com um medinho de estar grávida). Mas enfim, tenho os pés machucados, os seios inchados, as costas doloridas e um saco cheio de seíláoquê (agora sem hífen).

Também o Desgusto me encheu a cabeça de caraminhola, me disse que eu era muito "perseguida", que sempre achava que as pessoas näo iräo gostar de mim, e que sou super insegura. Quanto ao "perseguida" desconsiderei, mas o "super insegura" me caiu como uma bigorna. Como pode dizer que sou "super insegura" sendo que estou provando a mim mesma, viajando sozinha, o contrário? Ai.

"I think I saw you in the shadows
I move in closer beneath your windows
Who would suspect me of this rapture?
And who but my black hearted love"

O fato é que fiquei paranoiando se por algum aspecto isso näo fazia sentido. Mas a verdade é que näo tenho certeza nenhuma a respeito disso. Fazer o quê se tenho em minha pele pinças que capturam afetos seletos? Täo pouco sou afim de me tornar um zé-povinho.

"In the rain, in the evening I will come again"

Ontem fiz uma poesia, teci uma teia de fitas ao vento, pela fábrica. Foi bom, o vento frio, a garoa fina. O riso foi espontâneo. Quando me sinto à vontade faço poesia, mas a verdade é que hoje näo me sinto nem à vontade e nem vontade.

"I'd like to take you;
I'd like to take you to a place I know
My black hearted"

Mas de qualquer forma escutar Pj Harvey no rádio me cai bem.

...


E hoje (17 de maio - domingo), descubro porque cada parte me parece sempre um lugar distinto e estrangeiro. Percebo que é algo quanto ao peso da luz sobre as coisas. Da maneira como a luz se mescla com as cenas, as coisas, os humores.

Parece que hoje entendo um pouco mais sobre cinema e sua fotografia. De como "escrever a luz" e produzir algo atrativo e sedutor. Hoje o que vi foi bem sedutor.

Que bom prazer óptico.

Mas enfim, o que queria dizer e näo disse, é que a luz transforma cenários, ambientes, "ares", de tal maneira com que faz que cada lugar e cada tempo, seja único e raro. Me deu alegria de saber que estou viajando. Somente de passagem por essas paisagens únicas, e de luzes diversas.

Diálogo:
"-Dejeme escribir en tu cuaderno!!!
- No.
- Ai... Por favor! Te regalo plata.
- No, no quiero plata, no voy me vender. Y además, porqué te gusta plata?
- Ah... porque sí.
- No, en serio.
- Ah... porque puedo comprar cosas.
- Tah... pero porque te gusta comprar?
- ora, para tener cosas.
- y que cosas???
- Caramelos!!!!
_ ¬¬
"

Lembrei do meu irmäo depois dessa resposta täo encantadora. Alguém que cansa os olhos de sonhador para comprar "caramelos", cores e misturas para fazer outros sonhos.

Dessa vez só um até logo.

Até logo.

Lili

Mais um lugar em qualquer lugar, crescente de maio de 2009.

A vida pode ser bela, mas nem sempre é...

"Siempre se debe cruzar por los labirintos" (publicidade em um tren)

Como entender os espaços de resistência social em termos de vivência, organizaçäo e acesso?
Hoje tenho contato com um espaço que foi cedido pelo proprietário, que após tanto acumular dívidas abandonou o lugar. Trata-se de uma fábrica, uma antiga fábrica de borracha. Há uma fronteira (näo só territorial) que divide o espaçp, há onde vivem as "famílias", e onde vivem e convivem indivíduos punks, anarquistas, libertários, simpatizantes, ou nada disso... enfim, os "outros okupantes", pessoas que utilizam o espaço para buscar meios de produzir e/ou contribuir para algo comum.

O fato do espaço abranger uma enorme diversidade de desejos, ideologias e posturas faz com que culminem vários picos de tensäo. O que pode ser interessante, mas também, por vezes, algo cansativo e desistimulante.

Desistimulante pois em volta dessa fábrica há um fantasma que ronda constante: o dinheiro.
E cada um mantém sua relaçäo, íntima, perversa ou despreocupada, com o capital. No caso das famílias, além do fato de estarem "isentos" de pagarem impostos e taxas de água, luz e gás, há o intuito de manter-se alojados no espaço por interesses econômicos, já que um futuro desalojo por parte do governo poderia lhes renderem um boa indenizaçäo, e um lar "decente". Já por parte dos "okupantes" o dinheiro fornece meios para executar projetos, que ao meu ver, soam muitas vezes como filantrópicos e assistencialistas, que na verdade disfarçam um hedonismo latente, que poucos têm coragem de assumir.

Enfim... Humanos, todos demasiado humanos. E é isso que por vezes me encanta e me desencanta nesse lugar, que todos somos humanos, oscilando entre querer e dever.

Se te propöes a percorrer, todos os guetos, dos mais refinados, aos mais marginalizados, verás que o Deus Dinheiro controla os meios de se relacionar. Talvez isso seja mais latente em meios urbanos, ou em relaçöes interpessoais urbanas, pois assim como Deus, o dinheiro é a maior mentira que sustenta essa sociedade de consumo por séculos.

E sabe por que essa mentira nos convence? Porque ela brinca com nossos medos, cria um prazer, que näo é prazer, mas remédio, dormência, segurança e passividade para os nossos temores e frustraçöes. Solidäo, roubo, perda, violëncia: Todos acreditam na maldade.
Todos cordeiros, arrebanhados na fé do medo, e na fé do Salvador. Näo há salvaçäo. Ninguém vai te salvar. Ninguém vai te dizer pra deixares de ser um verme, pois todos querem ser vermes. Querem ser policiais, chefes, superiores, autoridades. Mas näo passam de vermes, que só conhecem o mundo com uma fruta apodrecida.

O mundo näo é täo pequeno e mesquinho. A vida é grande, e as possibilidades estäo nesse quintal. Querer é ser, e näo dever.

E espaços okupados säo desapropriaçöes do estado, e näo simples migalhas que poderäo gerar lucro no futuro. Näo há futuro para o capital, a resistência é agora, ela é mais simples e poderosa que se possa imaginar. Está no dia-dia, no cotidiano das relaçöes. Revoluçäo pessoal é revoluçäo social!

Assinado por alguém que crê na anarquia e em espaços anárquicos

Tudo em seu lugar, Cheia de Abril de 2009.

Janelas abertas:





Gosto do nome dessa cidade: Passo de los Libres. E o dia está agradável. Nenhuma malificiência me perturba. O vento cheira a liberdade, e faz meu coração respirar tranqüilo. Ai ai





Pela primeira vez na viagem sinto-me escrevendo uma grande aventura. Jack London e Kerouac não saem da minha cabeça. Essa grandeza de poder andar só e ter como casa todo universo. Não é uma fuga de casa, pois meu corpo é casa, e todo resto varanda. Sinto que esse andar pode ser escrita, pois como disse há algumas semanas, dessa vez viajar é mais como um reencontro com o novo, e não um deslumbre.





Ah, uma observação sobre horários de trem: são bem incertos. Primeiro obtive a informação da própria ALL (responsável pela estação de trem) de que sua partida era às 16:30, chegando aqui (agora são quase 15:00) soube que será às 18:00. E com certeza será mais tarde que isso. Mas não há problema, estarei aqui para ouvir o apito do trem.





E veja que coisa linda leio agora. É de Hildinha: "Amar o perecível / o nada / o pó / é sempre despedir-se." Ai de mim, que seria do mundo se não fosse esse amor. E que seria de mim.






...


Adoro o trem azul. Apesar de estar dentro dele, e ainda não mover, vislumbro as poesias. Essa longa tarde de espera, me reservou encontrar Jeronimo, um quase-filósofo-músico-publicitário, e com toda certeza uma ótima companhia. E a viagem sem destino, já ganhou acompanhante. Agora já são sete horas da noitinha, como havia previsto a chegado desse amado trem.

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Ahora son 10 horas (ai deslize, já estou pensando em castelhano) y estamos em Monte Carlo. A previsão é chegarmos amanhã ao meio-dia. E terei meio-dia para buscar abrigo. Mas tudo correrá bem (eu e minhas rezas... afinal estou só e com tudo).

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Já é amanhecer de 26 de março. Um mar verde me brinda de olhos. Tudo corre bem, só minha cabeça que se enche de nervosismos. Mas vai passar...

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Acho que o escuro da noite deixou meu corpo cansado e minha mente anciosa e perdida. O sol se mostra por completo e retomo a tranquilidade do início da viagem. Deixar os sentidos abertos me faz pensar menos negativismos, e me deixar mais a vontade com o todo.

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Já vivo em Buenos Aires há dois dias. A burguesia fede, e sua calda lamenta de hipocrisia, deixa sujeira até em mim. Mas já não vou mais procurar em ficar nesses dutos.

Amanhã (hoje mais tarde, pq estou indo dormir e são quase 10 da manhã) vou em busca de uma casa okupada e encantada. Las estrellas está sendo boa comigo, mas sei que minha energia criativa e produtiva não casa com a energia da casa. E vamos ver o que acontece... Não mais fantasmas, nem náuseas.

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Hoje são 30 de março, lunes. Mas não sei qual lua me guia, mas os "ares são bons". Na verdade ontem era brisa, hoje ventania. E ao assistir um filme mexicano (criticas à crueldade que o capitalismo é capaz de gerar0 me lembrei do quanto já havia desistido de perguntas que sempre, inocentemente, me atormentavam. Não sei, mas me parece que nem todas essas perguntas, se encontram sem respostas. A verdade é que não há mistérios. Sim. É isso.

É tudo uma questão de viver o dia de cada vez. E toda vez fresco, e novo. Hoje li nas paredes da Fábrica, que não há futuro, o futuro é hoje. E por falar em Fábrica (às vezes penso que estou tão dispersa, e desperta), o primeiro encontro com essa okupa foi como imaginava. Ou seja, um reencontro. É magnífico poder me sentir conectada com a vida. Meus pensamentos, meus sentidos, meus medos, meus desconfortos, minhas intuições...

É lindo saber que estou tão viva, que não quero contar os dias, apesar de saber de coisas práticas que preciso fazer. Mas uma coisa já respeitei: uma coisa de cada vez.

...

Já estou na Fabrika. É incrível o que se pode fazer. Falo com o que diz respeito a recriar. Recriar não é fazer de novo, mas fazer em cima do que já foi feito. Tenho certeza que aqui será uma experiência riquissima. Estou emocionada, com o conforto que este lugar me passa. E não só o lugar, mas as pessoas. Sei que é primeiro dia, e pode ser que esteja sendo precipitada, e também um pouco extasiada e aliviada de sair da las estrellas (Afinal, nada contra o espaço, só não é meu ritmo). De toda forma estou otimista com a idéia de viver um tempo aqui. Tim-tim ao café, os cookies, a música free-style, e os lençõis limpos que me brindaram já nesse fim de dia. Amanhã será melhor.

...

Hoje data 4 de abril de 2009. Sábado. Olho as paredes. Hoje é outra madrugada. Sinto muita saudade de casa, não pelo conforto material, mas pelo conforto emocional. Lidar com o novo, tem se manifestado em mim de várias maneiras. Talvez agora esteja um pouco dificil, porque estou tentando me adaptar às novidades, e isso não tem sido fácil, exatamente porque há muita novidade. E também, dentro de tudo isso, tem a minha preocupação de me sentir confortável comigo mesma.

Acho que o saber mais latente agora, é de como amigos são importantes e fazem falta. Porque teus amigos conseguem te ver duma forma tão transparente, que é seguro tê-los por perto. É seguro e confortável, já que esse outro olhar, te ajuda muito no auto-perceber. Bom, resumindo, sinto saudade do amor. E agora o que tenho é construção. Construção de afetos.

...

Hoje data: 5 de abril de 2009. Más noticias. Minhas "ganas" de chorar sem motivo, nunca são sem motivos. Meus queridos foram cuspido e espancados. Que nojo me dá. E que tristeza profunda. Como pode a vida ser tão martirizada praqueles que sonham? ou setá que tudo não passa de um equívoco juvenil?

Às vezes temo, que tudo não passe de uma síndrome de cristo. Não só de minha parte, mas da parte dos "resistentes". Hoje me sinto em um filme de ficção científica, com pensamentos a mil, sobre teorias da conspiração. Mas por outro lado me ponho mísitca, e crédula do "jogo de acasos".

Já tenho um "cômodo" na casa. E me sinto mais confortável. Caminhar é sempre algo que me ajuda. Principalmente quando a ordem é preservar o otimismo. Outra coisa que descobri agora. Preciso estar fora de Pelotas. Conversar com a Janice hoje, me fez perceber, finalmente que já não estou mais lá.

Acho que só agora, depois de 10 dias aqui, que me caiu a ficha, de que tenho outra vida. Totalmente nova. Sinceramente, tem vezes que me orgulho do fato de ainda estar viva.

Ai ai. A vida é grande. E infinita de possibilidades de acontecimentos. Ademais, essa história dá um filme: " Jovem de 24 anos, após terminar a faculdade, sai em busca de vivências em um outro país. Este é o cenário para um história cheia de emoções e fortes aventuras. Não perca! Você vai se emocionar." Pois é... acho que é assim. Sentir e Sonhar...

...

Bom, como segunda é dia de gente trabalhadora ir à luta, assim o fiz. Meu primeiro mangueio, sozinha, em Bs As. Ainda não contei. O ponto era tranqüilo e me sinto feliz com o meu palhaço de volta. Só isso já me valeu. Agora contar...

Uma surpresa agradável: 11,70. Para o que eu esperava está ótimo. Amanhã vou a outro ponto, e ver como me saio.

...

Hoje data 9 de abril. A lua é cheia... isso já diz tudo... A paisagem é linda, o outono, suas folhas, seu frio, meu andar... adoro rua, adoro pessoas, gatos, cachorros, baratas... hahahhaa, adoro o movimento. Eu, esposa do tudo, amante do nada.

Esse é o papel, Minguante de Março de 2009.

À deriva:

Esse é o papel
Então é por aqui que me deixo inscrito e cravado.

“Você vai para onde?” – perguntam. Eu invento qualquer cidade conhecida, mas o destino é não ter destino, é apenas jogar nas linhas.

Vou aos interiores... e como são fascinantes.
O resto de esmalte em meu polegar desenha uma árvore de cor vermelha. E vermelho também desenhou a barriga daquele amigo recém-desconhecido. Quanto delírio! A noite bêbada, frente à um pronto socorro qualquer numa cidade qualquer. Mas nunca é um momento qualquer. Estou sempre alerta e sóbria o suficiente para saber disso.

Houve um momento nessa noite que apaguei insone. Sonhei que tinha um pó que diluído em água que se transformava nos mais peçonhentos animais. Acordei assustada com o som do limpador de pára-brisa, assustada com o mesmo cenário de anos antes. A mesma chuva, os mesmos personagens, outras falas, falando sobre as mesmas lembranças. Um espiral.

Há raros momentos que não minto. É claro que me sentia bem, mas também sabia que aquele retorno fora bem ritualizado (girar e girar). E agora estou aqui, no centro de toda minha história. Serena e temerosa como tantas vezes já estive, e fui e voltei, para buscar forças em mim, naquilo que já me é tão certo. Só basta vivenciar, agora. Eternamente agora, repleto de repetições, para que tudo ganhe sentido. E quase como uma reza, (penso meus escritos assim quando em vez, uma reza) repito, eu repito quantas vezes preciso, a escuta e a fala dessa sina de mover e ser movida.

Um espiral não é um labirinto. Penso agora que possa ser um quebra-cabeça.

Da sua

Eliane Rubim

Eu me interesso, Crescente de fevereiro de 2009.

Caras páginas limpas:

Não sou boa em inventar histórias. Talvez minha escrita esteja mais para borrão, sujeira e ruído. Mas preciso dizer, o que invento é a própria escrita. Tão longe ter uma boa caligrafia, uma boa dicção de pensamentos. O motor nem sempre se sincroniza com o resto que pulsa e pensa.

Não voltei à fase "do que não quero", sigo em espiral, olhos p'r'os lados e vejo proximidades. Acho que é o máximo que consigo atingir: aproximação. Não sou boa em inventar histórias. Me aproximo de fatos (objetos), e componho linguagens.

Outro dia falava sobre objetos (sinto que minha cabeça vai doer), e depois de muito dizer, e descobrir alguns detalhes novos, consegui descobrir qual a "linha" que meu olho faz ao olhar. Procuro o impessoal. Parece contraditório, já que uso muito da conjugação em primeira pessoa do singular, mas meu olho que ser o "Grande Olho". Olhar e ser visto. Ser verbo e substantivo. De novo (nem tão velho, não tão novo) ser um deus que peca. Eu acredito na beleza.

"oh i miss the kiss of treachery the shameless kiss of vanity the soft and the black and the velvety up tight against the side of me and mouth and eyes and heart all bleed and run in thickening streams of greed as bit by bit it starts the need to just let go my party piece*"

Caras páginas, era pra ser um escrito leve, uma homenagem, quase uma ode, mas tua clareza, tuas infinitas possibilidades de luz, e sombra... me deixaram assim, perdida no que escrevo, não conseguindo comunicar todas minhas partes, que querem ser "todas", repletas e onipresentes. Talvez precise educar meu corpo num sistema de fordismo...

Ou talvez simplesmente rasgue essas páginas e fique calada. "Apenas deixe minha parte do pedaço".

Abraço de quem agora quer ser tão branda e cruel quanto vocês.

Lili

(*Disintegration - The Cure)

A ilha e o Fim, Nova de janeiro de 2009.

À quem está do outro lado:

A cidade oprime. Noticias desesperadas me chegam aos ouvidos. "Estamos ilhados, não há saídas!"
Se percebo isso? Com toda certeza. Estou em terra (não muito firme), com os pés secos.

Os caminhos ruiram. É noite, as estrelas surgem. Momento de fuga. Mas não muito longe, logo vem chuva novamente.

O que se lava agora? E a quem? É difícil dizer o que se sente, como já disse, a cidade oprime. Oprime meus sentidos. Não sei dizer quem morreu, e o que se passa. Os muros, as grades, os prédios me dão sombras.















"O dia vira noite". É estúpida essa bolha, a cidade é a ilha. E quem se atreve a dizer que não se esperava por isso? Me assusta como todos ainda se admiram e se espantam. É confortável reproduzir "a compaixão" televisiva. Bando de hipócritas! Tin-tin-saúde!

Ontem pensei em te ler alto, algo que Claude disse à Miller. Mas logo lembrei que não há memória, é a água que lava e leva tudo.

Não precisa vir me salvar, não sei nadar. Não busco à costa cinza.

Mandarei outros sinais, assim que a água baixar.

Eliane Rubim

O peso da leveza, minguante de janeiro de 2009.

Cara terra:

Eu me misturo contigo. Eu, o esterco, a areia, a água, o calor, e as cores fortes. Roxo, laranja, azul. Nada de tons pastéis. Nada de tons amenos. Não há melancolias, há ou êxtase, ou raiva. Sem meios, e termos cinzas.















Dale! As extremidades!

Bom, me misturo contigo. Fico da tua cor, mas o extremo é pouco tempo. Urbana condicionada, volto à esse lar ameno de cores fortes. Onde há luz natural urbana, há tons pastéis. Se é para ser plástico, que isso rasgue e doa.

Aprendizado dos dias que andam ao meu lado: Perdi o tom de lama, pois danço conforme a dança. Em outras palavras: Não há meios na cidade, apenas fins. E esses fins são trágicos (e obviamente cômicos).

Nosso humor é negro, pois somos extremos. Ai ai, sem tédios, por favor, não cabe!

Fico alguns dias longe de ti, da tua mistura, e sabe o que me vem? Me vem o desejo de ser pedra, ver acontecer tudo dentro, esperando o próximo acidente, o próximo chute, o próximo lustre. Eu espero.

De quem corre atrás das chuvas, girando e girando.

Lilith