Cata-ventos Lunares: Mais um lugar em qualquer lugar, crescente de maio de 2009.

Mais um lugar em qualquer lugar, crescente de maio de 2009.

A vida pode ser bela, mas nem sempre é...

"Siempre se debe cruzar por los labirintos" (publicidade em um tren)

Como entender os espaços de resistência social em termos de vivência, organizaçäo e acesso?
Hoje tenho contato com um espaço que foi cedido pelo proprietário, que após tanto acumular dívidas abandonou o lugar. Trata-se de uma fábrica, uma antiga fábrica de borracha. Há uma fronteira (näo só territorial) que divide o espaçp, há onde vivem as "famílias", e onde vivem e convivem indivíduos punks, anarquistas, libertários, simpatizantes, ou nada disso... enfim, os "outros okupantes", pessoas que utilizam o espaço para buscar meios de produzir e/ou contribuir para algo comum.

O fato do espaço abranger uma enorme diversidade de desejos, ideologias e posturas faz com que culminem vários picos de tensäo. O que pode ser interessante, mas também, por vezes, algo cansativo e desistimulante.

Desistimulante pois em volta dessa fábrica há um fantasma que ronda constante: o dinheiro.
E cada um mantém sua relaçäo, íntima, perversa ou despreocupada, com o capital. No caso das famílias, além do fato de estarem "isentos" de pagarem impostos e taxas de água, luz e gás, há o intuito de manter-se alojados no espaço por interesses econômicos, já que um futuro desalojo por parte do governo poderia lhes renderem um boa indenizaçäo, e um lar "decente". Já por parte dos "okupantes" o dinheiro fornece meios para executar projetos, que ao meu ver, soam muitas vezes como filantrópicos e assistencialistas, que na verdade disfarçam um hedonismo latente, que poucos têm coragem de assumir.

Enfim... Humanos, todos demasiado humanos. E é isso que por vezes me encanta e me desencanta nesse lugar, que todos somos humanos, oscilando entre querer e dever.

Se te propöes a percorrer, todos os guetos, dos mais refinados, aos mais marginalizados, verás que o Deus Dinheiro controla os meios de se relacionar. Talvez isso seja mais latente em meios urbanos, ou em relaçöes interpessoais urbanas, pois assim como Deus, o dinheiro é a maior mentira que sustenta essa sociedade de consumo por séculos.

E sabe por que essa mentira nos convence? Porque ela brinca com nossos medos, cria um prazer, que näo é prazer, mas remédio, dormência, segurança e passividade para os nossos temores e frustraçöes. Solidäo, roubo, perda, violëncia: Todos acreditam na maldade.
Todos cordeiros, arrebanhados na fé do medo, e na fé do Salvador. Näo há salvaçäo. Ninguém vai te salvar. Ninguém vai te dizer pra deixares de ser um verme, pois todos querem ser vermes. Querem ser policiais, chefes, superiores, autoridades. Mas näo passam de vermes, que só conhecem o mundo com uma fruta apodrecida.

O mundo näo é täo pequeno e mesquinho. A vida é grande, e as possibilidades estäo nesse quintal. Querer é ser, e näo dever.

E espaços okupados säo desapropriaçöes do estado, e näo simples migalhas que poderäo gerar lucro no futuro. Näo há futuro para o capital, a resistência é agora, ela é mais simples e poderosa que se possa imaginar. Está no dia-dia, no cotidiano das relaçöes. Revoluçäo pessoal é revoluçäo social!

Assinado por alguém que crê na anarquia e em espaços anárquicos

Um comentário:

Bianca disse...

Tai minha Lôra, Revolução Pessoal, nisso eu acredito, e acredito nessas experiências que tu estás tendo, como forma de amadurecimento e compreenssão de tudo que já passastes e no que crês.
E minha saudade ta enorme e ansiosa pra receber aquela carta que não chega nuncaa!
Eu vou conseguir chegar, tu vai ver... risos

beijoo de nós!