Cata-ventos Lunares: março 2009

Esse é o papel, Minguante de Março de 2009.

À deriva:

Esse é o papel
Então é por aqui que me deixo inscrito e cravado.

“Você vai para onde?” – perguntam. Eu invento qualquer cidade conhecida, mas o destino é não ter destino, é apenas jogar nas linhas.

Vou aos interiores... e como são fascinantes.
O resto de esmalte em meu polegar desenha uma árvore de cor vermelha. E vermelho também desenhou a barriga daquele amigo recém-desconhecido. Quanto delírio! A noite bêbada, frente à um pronto socorro qualquer numa cidade qualquer. Mas nunca é um momento qualquer. Estou sempre alerta e sóbria o suficiente para saber disso.

Houve um momento nessa noite que apaguei insone. Sonhei que tinha um pó que diluído em água que se transformava nos mais peçonhentos animais. Acordei assustada com o som do limpador de pára-brisa, assustada com o mesmo cenário de anos antes. A mesma chuva, os mesmos personagens, outras falas, falando sobre as mesmas lembranças. Um espiral.

Há raros momentos que não minto. É claro que me sentia bem, mas também sabia que aquele retorno fora bem ritualizado (girar e girar). E agora estou aqui, no centro de toda minha história. Serena e temerosa como tantas vezes já estive, e fui e voltei, para buscar forças em mim, naquilo que já me é tão certo. Só basta vivenciar, agora. Eternamente agora, repleto de repetições, para que tudo ganhe sentido. E quase como uma reza, (penso meus escritos assim quando em vez, uma reza) repito, eu repito quantas vezes preciso, a escuta e a fala dessa sina de mover e ser movida.

Um espiral não é um labirinto. Penso agora que possa ser um quebra-cabeça.

Da sua

Eliane Rubim