Cata-ventos Lunares: O mesmo lugar, crescente de fevereiro de 2007.

O mesmo lugar, crescente de fevereiro de 2007.


Caro Vento:

Sem perguntas e lamentos dessa vez, apenas uma boa notícia. Deu certo, os girassóis, mesmo despetalados, giraram pro sol, estou tão excitada por não tê-los decepado. E tem outra coisa também, decidi não mais me unir ao tudo e ao nada, é muito pra mim, eles ainda não sabem, mas logo escreverei noticiando. Sabe, acabei encontrando um lugar na humanidade, pelo menos eu acho. De qualquer forma, apesar de sentir e entender que sou mais um grão de areia entre todo esse lugar, há outras tramas que vibram e também pulsam vida. A coisa tá feia pra essa espécie, e não quero fingir que não sou parte dela. É foda sentir que a palavra humanidade nunca teve muito significado pra mim, mas eu sei o quanto o seu umbiguismo em não crer que também é parte da trama levou muitos seres a esse colapso, e eu sinto, é o ar que eu respiro. E por mais que feche os olhos pro sensacionalismo das pessoas, e tente configurar beleza na sordidez, tem vezes que isso é demais pra mim. O mesmo lugar tem servido de concha pra minha pele, mas não dá mais, todo lugar é mesmo lugar.
Teve as nuvens, há seis luas atrás, ainda estava na estrada com a Biga, eu tentei brincar com elas, tentar ver o máximo de imagens numa só bola de algodão, mas eu só consegui ver o peso delas, quase por despencar do céu. Mas não com a leveza da chuva, mas com dor e ressentimento do chão, das pessoas que entremeiam esses dois espaços. Está tudo tenso, muito tenso, a suavidade do movimento mudou seu sopro. Aliás, já faz um bom tempo que vem mudando (e assim há de ser sempre).
Sei que vais aparecer só na lua que míngua, mas quem sabe, até lá, eu te escreva novamente. Não consigo mais me comunicar através dessas letras por agora.

Bom sonhos,
da sua
Eli.

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