Cata-ventos Lunares: Se correr o bicho pega, nova de março de 2007.

Se correr o bicho pega, nova de março de 2007.

Caro Nada:


Não vejo os aliados. Tenho a singela sensação de nadar com tubarões. Isso não é leve, com toda a certeza.
Criei um estranho hábito de desconhecer o que me parecia cotidiano. Tenho medo de não ter mais no que confiar, me entendes? A todo instante penso sobre as sociedades de controle e a produção de subjetividade capitalística, mas não sei porque, sempre acabei por ter isso como longe da minha configuração. Pelo menos era assim, até poucos dias. Tenho a sensação que as peças da máquina de consumo estão dentro do círculo que considero sagrado, que é o círculo das amizades. Desconfio plenamente que não tenho amigos na minha volta. E isso não é nenhum tipo de paranóia, pouco tenho me drogado e bebido café.
Sinto que todos agem de forma faminta para se beneficiar, e eu fico com náuseas só de pensar. Além de sentir todos meus sonhos-de-olhos-abertos escaparem correnteza abaixo.É preciso se aliar, diz o sábio; eu o respeito intensamente, mas anda difícil... bem difícil. Eu temo ainda mais, por sentir que um dos meus fortes aliados está se entregando pelo sugo colapso do planeta terra.
Até então não tinha sentido o frio de ficar totalmente só, de peito aberto diante à artilharia.Eu preciso ser além de um pulmão, defender-me apenas não basta. Preciso do grande aliado ao meu lado, pois temo ser sugada de vez por um colapso estrutural.
Pensei muitas vezes em anular minha aliança contigo e o tudo, mas já desconsiderei. Acreditei que isso me deixaria distante “das coisas de fato”, mas isso não sou eu, isso é bobagem d’outrém. Mas também descobri que preciso de uma língua materna que me abrigue, e que ajude no meu pensar, no seu intumescimento.
Não posso fugir todo tempo... e são tantas coisas tramadas, e tudo às vezes se parece com um nó. Às vezes preciso de umas certezas... só até o corpo aquecer em entrega, depois não tenho problema em me desvencilhar e brincar com a inconstância do mundo.
Agora é quase outono, e eu ignoro o movimento dos astros e dos carros, nada se alia, todos cegos e soltos.
Sinto-me otimista.
Em silêncio te guardo
da sua
Eliane.

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