Cata-ventos Lunares: Sobre ti, noite nublada de fevereiro de 2007.

Sobre ti, noite nublada de fevereiro de 2007.

Cara Cadeira:

Andei pensando em como poderia me comunicar com tudo. Mas vou te contar como isso me ocorreu.Às vezes, ouço pessoas, ao redor de mim, conversando numa língua estrangeira, da qual não reconheço. Por causa do estranhamento, toda vez que isso acontece eu tento capturar esses sons, que soam quase como grunhidos.Mas tem algo do qual venho reparando. Não são somente esses sons “humanos” que me provocam estranhamento, mas vários outros, principalmente os sons que, com muita intensidade e “dificuldade”, intencionam comunicar.
Dia desses, caminhava pela beira, escutava (na seqüência) Sonic Youth, Sigur Rós, Radiohead e Mogwai, somado ao vento e as ondas do mar. Muito ruído, transe, intensidade, e uma vontade enorme de poder conversar com tudo o que sentia... tão grande que havia momentos que ficava surda, surda dos meus pensamentos.Pensava o sentir, e entrei em desespero. Chorei muito, muito. Porra de humanidade! Que língua é essa? O que nos faz crer que há comunicação? O que é isso que movimenta intensamente a ponto de fazer tudo vibrar ?Eu me sentia muito sozinha, a mesma solidão mutante de sempre. Em todos os lugares, com uma nova velha face, escondida atrás das dúvidas. E ela ria, ela e o destino. Sempre riem de mim, e não sei porque insisto em querer amizade com eles... O olhar era estático, havia beleza e leveza. Eu brincava no refluxo, cegava-me na negritude da água. Não quero me unir com gente que não respeita o que sente, não respeita o corpo, corpo-mundo, corpo-seu, corpo-d’outro.
Walking, walking, walking... the lights are on but nobody’s home, everybody wants to be a, everybody wants to be a friend, but nobody wants to be a slave.
O que mesmo eu estava querendo dizer? A quem posso comunicar isso? O que mesmo tudo isso queria me dizer?Talvez nada, mas eu preferi configurar, e ouvi os ruídos, eles diziam pr’eu não me trair. Entendes, enlouquecer. Mas não posso temer a entrega. Tenho fome de mundo, sei que é muito mundo, sou gulosa, vou comer dele, comer de mim. Ruídos grunhidos desesperados por tocar, comunicar. E com um anel desposei o tudo e o nada, o pra sempre e o nunca mais.Por que fiz isso? A pergunta certa é: por que não? Por que não tencionar meu corpo à linha que nos faz calar, e então grunhir como uma pedra-animal-flor-chuva-resto? Dou meu corpo, pra que a terra e todo o resto me coma. Foder com tudo, e silenciar em nada, ainda fodendo. Eu quero construir uma língua contigo. Espero teu consentimento com todos os poros abertos, caso não queiras, emito ruídos e construo um país.
Não dá mais pra esperar, nem desesperar. O amor existe. E quais são os sons do amor?

Te toco,
Eliane

Um comentário:

ann disse...

ñ sei porque a insistência...porque o desejo...porque a vontade, porque ñ podemos fujir d um falar q ñ diz nada..ou diz tudo..e mesmo assim parece q tudo é demais, e é pouco...qual é a língua, quais são os sinais...pra quem falamos????
pra nós mesmos??